Sunday, February 24, 2008

Sobre a lesão de Eduardo

Todo o futebol inglês é hoje um espectáculo altamente mediatizado, capaz de catapultar para a fama mundial jogadores cuja reputação era meramente nacional ou regional até ali chegarem. Diversos jogadores só se tornam realmente célebres quando pisam os relvados ingleses e por isso, é normal que a ambição de qualquer atleta de outras ligas seja um contrato no principal campeonato inglês. Contudo, creio que existe hoje um fenómeno muito preocupante que o êxodo de jogadores estrangeiros propiciou: o da necessidade de afirmação patriótica por parte dos jogadores ingleses sobre os estrangeiros.


Essa afirmação é muitas vezes feita através de futebol jogado, notando-se uma grande propensão dos nacionais dessa liga em dar exemplos de liderança nas equipas onde actuam: são eles Terry, Ferdinand, Gerrard, Owen, Barry, Campbell ou Micah Richards, mas há igualmente quem tente demonstrar o seu amor pela pátria através de acções que nada têm a ver com o futebol. Uma dessas acções foi levada a cabo pelo defesa Taylor sobre o croata-brasileiro Eduardo, pois há para mim algo que vai além da brutal falta cometida pelo inglês: há vingança.

Vingança devido à sua selecção ter sido eliminada do Europeu pelos pés daquele mesmo jogador. Um tackle como aquele não se admite em nenhum momento do jogo, mas o simples facto de ter sido cometido aos 2 minutos de jogo significa para mim que o defesa inglês já ia com uma missão na sua cabeça: lesionar o croata. Pela cabeça de Taylor deve ter passado algo como "se os meus compatriotas não vão ao Euro, tu também não vais!"


Esta minha ideia fundamenta-se ainda na carga com o cotovelo com que Ben Tatcher agrediu Pedro Mendes em Agosto de 2006, pouco tempo após a eliminação da Inglaterra por Portugal no Mundial. Para mim são coincidências a mais, e se tivermos em conta a forma como grande parte dos ingleses aproveita tudo para desancar os trabalhadores estrangeiros que para lá se deslocam, aí ficamos com uma ideia da mentalidade que alguns jogadores certamente têm.

Espero sinceramente que o futuro desminta esta teoria, mas acho difícil que tal se venha a suceder, pois é algo que está enraizado na cultura daquele povo. Acredito que em Portugal também se vive algo semelhante, mas o futebol não tem sido reflexo disso, pois se tal fosse, não teríamos acolhido os carrascos Karagounis, Katsouranis ou Poborsky no nosso campeonato e não teríamos aplaudido a vitória dos adversários nos nossos campos (CSKA e Grécia).

Os ingleses podem ter sempre os estádios cheios e os adeptos a cantar, mas felizmente que também os portugueses têm algo em que se orgulhar: o saber perdoar a quem nos venceu, ou por outras palavras, o saber perder. Pena que muitos de nós não saibamos praticar ainda o mais fácil: saber ganhar.

1 comment:

Rui Gonçalves said...

A entrada bárbara sobre Eduardo da Silva foi, sem sombra de dúvida, mais uma mancha na Premier League.
Para uma Federação e uma liga que se orgulham de apregoar o fairplay a torto e a direito, de castigar e despenalizar jogadores através das imagens da TV e de ser exemplar nesses mesmos castigos, não deixa de ser mais um abanão na sua estrutura. Os jogadores da liga inglesa disputam os lances até ao limite, sem dúvida, mas a maior parte das vezes vão muito além desse limite.
É na Premier League que vemos as entradas mais assassinas do futebol europeu e situações como o espezinhar de B. Alves a Moutinho ou o incidente entre Luisão e Katsouranis nada têm em comum com o enviar de colegas de profissão para o hospital durante meses a fio.
Roy Keane orgulha-se de ter acabado com a carreira de um jogador adversário.
Não posso deixar de concordar com o António e com Wenger: este tipo de situções não pode continuar a passar incólume e jogadores que cometem este tipo de atrocidades aos 2 minutos de jogo deveriam ser "convidados" a afastarem-se do futebol. Isto apesar do mau perder demonstrado por Flamini, Gallas e Hoyte, jogadores dos gunners, que no mau perder em todo o seu esplendor, começaram a pontapear Nani no 4-0 entre Man Utd e Arsenal.
Meus senhores, querem um exemplo de disputa de lances até ao limite mas sempre com o fairplay que raramente vejo nos jogadores ingleses?
Duas palavras: Gennaro Gattuso.

Abraço!