Wednesday, February 06, 2008

A selecção de alguns nós

Não se trata de um trocadilho, Portugal é de facto uma selecção exclusiva apenas para alguns. Não sei que critérios usa Scolari. Aliás, acho que nunca ninguém soube. Desde o primeiro jogo no Euro 2004 que Scolari vive sem convicções. Nesse jogo que perdemos com a Grécia, Scolari tinha uma ideia. Não resultou e mudou tudo no jogo seguinte com a Rússia, o qual ganhámos, com a selecção mais unânime entre os portugueses, isto é, com o meio-campo do FC Porto campeão europeu e com Miguel. Como resultou, Scolari insistiu nessa selecção até à final, tendo aí voltado à sua ideia inicial (remeteu Rui Costa para o banco), que mais uma vez e para desilusão de todo um povo, se mostrou novamente errada.

No Mundial 2006, Portugal, fruto de um processo de exemplar liderança movido por Luís Figo, combateu com as armas que tinha até à extenuação. Perdeu na meia-final e foi a equipa mais empolgante da competição. Todo um feito, conseguido através da ideia que nos levou à final do Euro2004. Não foi a ideia do jogo inicial e da final dessa mesma competição, mas a ideia de blindagem da equipa e de experiência. Há mérito de Scolari no trabalho de coesão do plantel, mas infelizmente, Scolari pecou em termos de ordenamento da equipa, e, como tal, acabámos por perder face à França, um adversário também com experiência, mas muito mais ordenado em campo. Tal como a Suécia em 94 ou a Croácia em 98, Portugal não teve argumentos em campo para contrariar o favoritismo do adversário da meia-final. Em todo este processo, Scolari tem mérito, mas mais uma vez, falhou novamente na componente táctica, insistindo nas suas ideias até ao fim. Uma dessas ideias foi Pauleta, que tal como no Euro2004, foi novamente o avançado de que não precisávamos.

Agora, a caminho do Euro 2008, Scolari continua a mostrar as suas ideias. Nada de mal nisso, o problema reside no facto de insistir nelas quando vê que as mesmas não resultam. Como aconteceu hoje com a Itália, com várias titularidades sem sentido. Se a equipa inicial é a ideia de Scolari para o Euro2008, então estamos bem tramados, pois perdemos para uma Itália com muitas caras novas e sem alguns nomes de peso como Totti, Del Piero (não se sabe se voltarão à squadra azurra), Buffon, Aquilani ou Bonera.
Entre as ideias que estão erradas, mas que possivelmente vamos continuar a assistir no futuro, conto as seguintes:
  • Ricardo: sabemos que é um dos talismãs de Scolari, mas da mesma forma que nos salva, também é bem capaz de nos enterrar. Não condeno as suas perdas de concentração, pois todos os guarda-redes as têm, o que me preocupa é a falta de segurança que dá à defesa. Além disso, períodos extensos com o mesmo guarda-redes costuma dar em fiasco de um momento para o outro. Não tem a ver com a qualidade dos guarda-redes, é apenas um fenómeno histórico, que resultado do facto das alternativas estarem muito verdes para o lugar, pois o mesmo foi ocupado sempre pelo mesmo. A Itália deu hoje oportunidade a Amelia, e Scolari, quando dá uma oportunidade aos seus jovens guarda-redes?
  • Bruno Alves: digam-me o que disseram, para mim continuará a ser um cepo, bem ao estilo de Couto, mas muito mais lento e com pior jogo aéreo. Não me digam que com Jorge Andrade de fora, Bruno Alves é a primeira opção? Isto é mau, quando temos Pepe, Ricardo Rocha, Nunes e até Rolando, todos eles melhores que o portista. Só Tonel está ao mesmo nível que o cepo do FC Porto. Pelos vistos conta muito mais para Scolari os jogadores terem raça (é inegável que B. Alves tem) do que propriamente atributos técnicos, indispensáveis face a avançados rápidos e temíveis, como quase todas as grandes selecções mundiais têm.
  • Meira: gosto de Meira, mas acho que ele simboliza tudo o que de mal tem Scolari. Não foi convocado para o Euro2004 por opção técnica e foi depois ao Mundial2006, por lesão de Jorge Andrade. Meira, como qualquer segunda escolha, revoltou-se (positivamente) e fez um Mundial espectacular. Finda essa revolta, penso que a continuidade na selecção não tem razão de ser, pois o jogador já não tem a mesma alma e além disso, será novamente segunda escolha.
  • Raúl Meireles: Tem garra, é raçudo e luta muito. Mas para isso já temos Petit e Maniche. Além disso e na minha opinião, Moutinho, Manuel Fernandes e Pelé têm mais técnica e sentido táctico que Meireles.
  • Makukula e Hugo Almeida: Achei giro ao início, mas a verdade é que a selecção não pode jogar com armários na linha avançada, pura a simplesmente porque no caso de não ganharem os cruzamentos aos centrais, deixa de haver soluções ofensivas dentro da grande área, pondo todo o encargo nos extremos, que longe da área, pouco podem fazer. Portugal precisa de avançados que não se escondam do jogo, hábeis tecnicamente e com remate pronto. Makukula tem remate pronto, mas não tem técnica, Nuno Gomes não se esconde do jogo mas tarda em rematar e Hugo Almeida é o mais completo, mas joga melhor com aberturas pelo meio, algo complicado numa selecção que vive dos extremos.
O jogo de hoje revelou todas estas falhas. Era óptimo se Scolari extraísse informação dessas falhas e mudasse algo, mas tal não vai acontecer, pois não é assim que o Sargentão funciona. Ele já tem o grupo formado e não vai dar lugar para mais ninguém, por muito injusto que seja. Por essas e por outras é que a selecção é de Scolari, da sua equipa técnica e dos seus afilhados na selecção, não dos portugueses.

1 comment:

Rui Gonçalves said...

Grande texto! Foram apontadas algumas das mais perceptíveis falhas de Scolari e da Selcção: os critérios de escolha, que já não são de agora mas que vêm do EURO 2004, e os pontos mais fracos da equipa. Ricardo continua a demonstrar que não pode ser GR titular de uma selecção; não se percebe como jogadores do calibre de B. Alves, R. Meireles, Makukula ou H. Almeida são seleccionados, enquanto Moutinho, M. Veloso, M. Fernandes, Tonel ou mesmo Abel ficam de fora (nada têm a menos do que os outros atrás mencionados, bem pelo contrário).
Scolari continua o seu caminho de teimosia, bem para formar um grupo mais coeso e unido mas mal pois o seu critério de escolha não existe e nem sequer privilegia aqueles que estão em melhor momento.
Enough said...

Abraço!