Thursday, February 07, 2008

Outra perspectiva

Acho que todo o esforço financeiro que o Estado tem feito no futebol deve parar. Não vale a pena dar dinheiro aos clubes se estes investem-no em brasileiros (e outros estrangeiros), estrangulando assim a formação dos jovens portugueses. Não se trata de xenofobia, mas sim de uma simples equação: se os clubes portugueses preferem ir buscar jogadores estrangeiros (normalmente ao Brasil) para desempenhar a função que antigamente faziam os jovens portugueses, estes ficam cada vez mais presos na sua formação, pura e simplesmente porque nem são titulares no clube da terrinha. Quebra-se a tradição, quebra-se a paixão e pior, quebra-se a formação de jovens valores, claramente necessária num país que hoje tem opções, mas que sabe o que é viver sem elas. Dizerem-me que o caminho é naturalizar e não formar só mostra o desleixo em que a Federação se atolou.

Dou este alerta num tempo em que um dos esteios da formação em Portugal está a ficar corrompido. Falo do Benfica e da sua equipa de juniores, hoje recheada de jovens estrangeiros (são 14 em 30, ver todos aqui). Não tirando valor a esses jogadores, a mim incomoda-me que eles lá estejam em vez dos portugueses. Chamem-me nacionalista, eu cá chamo falta de visão dos dirigentes encarnados que, vendo que não saem jogadores capazes de reforçar a equipa sénior, decidiram agora comprar jovens de outras paragens a ver se dá resultado. Tudo isto acaba por acontecer por falta de coragem dos vários treinadores que raramente apostaram na juventude benfiquista, assim como dos interesses movidos pelos empresários inseridos na gestão do clube, que metem na equipa os futuros bons negócios e não apostam nos jovens portugueses pois tal opção é dispendiosa (dura todo um ciclo de formação) e não dá lucro a curto prazo.

Vale ainda que Sporting e FC Porto continuam a apostar bastante nos jovens nacionais, mas uma vez inseridos numa má colheita, tal reflecte-se amplamente na selecção nacional. Se ao invés de apenas duas fontes, existisse ainda mais uma com grande tradição no lançamento de grandes jogadores (que era o Benfica), um ano de má colheita não teria tanto impacto como tem actualmente. Para que todo este tema tenha lógica, fica ainda uma notícia reveladora de todo este drama: foi há sensivelmente 6 anos que a geração de Moutinho, M. Fernandes, Vieirinha, H. Barbosa e Miguel Veloso foi campeã europeia de sub-17. Actualmente a selecção sub-16 de Portugal conseguiu ser goleada por 7-0 pela sua congénere espanhola. Em 6 anos muita coisa mudou na formação em Portugal, e pelos vistos, foi tudo para pior. Enquanto uns acham que foi um apenas um resultado anormal, eu cá acho que tal foi só o primeiro sintoma de uma política totalmente errada por parte dos clubes portugueses. Ainda vamos a tempo de corrigir isto, mas valha a verdade, o tempo já vai escasseando.

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