Thursday, February 26, 2009

O poder do dinheiro

Não costumo dar razão aos dirigentes do futebol, mas Platini tem toda a razão quando diz que o dinheiro está a arruinar o futebol. O mais curioso é que o problema não é só das ligas com menor peso na Europa como Portugal, Holanda ou Bélgica, pois as equipas com menos dinheiro dos maiores campeonatos europeus como Itália, Espanha, Inglaterra e até mesmo Alemanha vêem-se cada vez mais em situação financeira apertada, o que aliado a uma má gestão (contratações muito caras e de rendimento duvidoso, pouca aposta na cantera, etc) leva clubes com uma certa tradição a caírem prematuramente na Europa, assim como os leva a fazer maus campeonatos nacionais. Os dezasseis-avos-de-final da Taça UEFA servem como justificação para esta tese, senão vejamos:

Conclusão: em 16 eliminatórias ficaram de fora 9 equipas de 4 dos principais campeonatos europeus, destacando-se entre as demais, a eliminação de Milan e Valência, equipas com clara tradição europeia. Feitas as contas, ficam assim a representação deste países na UEFA:

Inglaterra: 1/5 equipas (Man City, Aston Villa, Tottenham, Portsmouth, Everton)
Itália: 1/5 (Udinese, AC Milan, Fiorentina, Sampdoria, Napoli)
Espanha: 0/4 (Valencia, Deportivo, Sevilla, Racing Santander)
Alemanha: 2/7 (Hamburgo, W. Bremen, Stuttgart, Wolfsburg, Hertha, Schalke, B. Dortmund)

Os empatas: Espanha

Capítulo II desta série, centremo-nos agora no país vizinho onde 4 dos principais clubes enfrentam a cada jornada o "enfado" por um ou outro jogador do onze. O Real Madrid, fonte de fúrias e onde se espera sempre o melhor é possivelmente o clube que mais vitimiza os seus jogadores, pois está habituado a ter peças de classe em cada posição. O Barcelona, numa linha diferente, aposta na cantera mas tal investimento acarreta muita contestação. Já o Valência funciona mais como clube investidor do que instigador. O Atlético de Madrid é uma equipa virada para o ataque, daí que a defesa seja sempre contestada. Passemos então à análise:


Real Madrid: Heinze

O argentino constitui-se como uma das piores contratações da história do Real Madrid. Por incrível que pareça, o problema não está no seu rendimento na equipa, mas sobretudo naquilo que significou a sua contratação: se dúvidas havia sobre a quezília entre Manchester United e Real Madrid por causa do tema C. Ronaldo, a rescição de Heinze do clube inglês para assinar pelo espanhol foi certamente a assinatura no pacto de guerra entre os dois gigantes. Além disso, Heinze é um jogador medíocre, sem nível para um Real que procura sempre o melhor sem olhar muito para os custos. O facto de continuar a ser titular só prova uma coisa: o Real Madrid é uma manta de retalhos na defesa. Se Heinze joga é apenas porque Marcelo ou Drenthe são ainda piores. Mas esses não têm ainda idade nem responsabilidade para se denominarem de empatas. Ao contrário do argentino.

Barcelona: Valdés

Não há volta a dar, sem uma portentosa exibição num duelo entre grandes clubes, não há reconhecimento a dar a um guarda-redes. Casillas teve a sorte de o fazer exactamente no seu jogo de estreia na final da Liga dos Campeões. Valdés ainda aguarda pelo seu momento de glória, em que seja ele a capa do jornal no dia seguinte. À falta disso, Valdés será sempre posto em dúvida, por muitas boas exibições que faça ao longo de toda a época. Ao ser apenas mais um nos grandes jogos, Valdés será sempre posto em causa e olhado com desconfiança. Além disso, nos jogos onde falha, o peso de uma crítica vale por dois. Daqui a uns anos, quando Valdés já não for titular, os adeptos catalães continuarão a perguntar-se: há quanto tempo não temos um guarda-redes que nos dê total e absoluta confiança como o fez Zubizarreta?

Valência: Marchena

Central de grande qualidade, Marchena é contudo demasiado conflituoso com tudo o que o rodeia. É o típico jogador selvagem que discorda de tudo aquilo que considera estar longe do seu agrado. Desde as decisões do treinador, aos companheiros de defesa, ao guarda-redes, aos árbitros passando finalmente pelos adeptos e dirigentes. Em constante conflito, Marchena dá golpes profundos na harmonia em que se quer um clube de futebol. Felizmente para ele e para o Valência, o futebol espanhol, algo anárquico e carente de carisma, tem em Marchena um jogador ideal para o meio. Infelizmente, para ganhar títulos e para fazer boas competições europeias, Marchena já não é certamente o jogador ideal na equipa. Contudo, para um bom campeonato é mais que suficiente.

Atl. Madrid: Paulo Assunção

O luso-brasileiro não é certamente quem tem a culpa directa, mas a fraca performance da defesa do clube não pode estar ligada apenas aos elementos que a compõem. O jogo do Atlético é partido ao meio e quem tinha de fazer essa ligação era Paulo Assunção. Talvez o jogador não seja o indicado para a fazer pois é sobretudo um recuperador e não um homem de transição (Maniche não vem atrás com a mesma predisposição que o fazem Lucho e Meireles), no entanto nem na tarefa de recuperação Assunção tem sido brilhante. Pode-se imputar mais culpas ao treinador, a Maniche e Raúl Garcia que não vêm atrás e claro aos defesas, contudo acho que Assunção não atingiu sequer metade do rendimento que exibiu no FC Porto. Isto ao contrário da sua língua, que parece mais afiada que nunca.

Wednesday, February 25, 2009

Os empatas: Portugal

Olá de novo caros seguidores do Crónicas. Escrevo após a tareia aplicada pelo Bayern de Munique em Alvalade (5-0) que me deixou bipolarmente revoltado, isto é, tanto fiquei zangado com a falta de acerto da defesa sportinguista como me aborreci com a eficácia tremenda de Toni, Klose e companhia. Na ressaca desse jogo tentei fugir ao padrão dos treinadores e jogadores que põem sempre a culpa na gestão do plantel ou no grupo de trabalho, respectivamente. Como o futebol é bem mais simples que isso e resume-se no fundo às boas e más exibições dos craques, passemos então em revisão de quem é afinal a culpa da irregularidade ou dos momentos maus das suas respectivas equipas, ou seja, quem são os empatas das equipas:

Selecção Nacional: Cristiano Ronaldo

Sou dos principais apreciadores do futebol vertiginoso que Ronaldo apresenta no Manchester United, contudo na selecção o extremo leva demasiado a peito a tarefa de levar Portugal para a frente, individualizando a maior parte das acções, complicando aquilo que em passes simples se conseguia e complexando transições que se querem rápidas e não têm como objectivos pura e simplesmente o arrancar de cartões amarelos para o adversário. Dá cada vez mais a ideia que a selecção seria muito mais equipa se Cristiano Ronaldo não estivesse lá, pois Cristiano retira trabalho a quem o deveria ter, um pouco como um computador que faz as tarefas que 3 pessoas fariam. Finalizando, todo este problema fosse talvez solúvel com a adaptação de Ronaldo a ponta-de-lança. Vinha buscar menos jogo atrás e a selecção ganharia com o seu poder de finalização. Fica a sugestão.

FC Porto: Helton

Talvez para provar que o FC Porto é a equipa mais forte do momento em Portugal, fica a ideia de que não há grandes problemas no onze base de Jesualdo Ferreira. Poderia nomear Cissokho mas o pobre coitado ainda está há pouco tempo no clube para ter culpas no cartório. Por outro lado, Hulk parece-me por vezes demasiado egoísta, mas isso não se pode reclamar a um ponta-de-lança. Fica por isso a sensação que Helton, por já estar no clube há uns anos é capaz de ser uma das peças que a curto prazo seja melhor mexer. Não se trata de um mau guarda-redes, longe disso, mas as suas falhas não se coadunam em nada com os objectivos europeus do FC Porto. A nível interno, Helton dá para o gasto, mas a nível europeu as suas falhas vão comprometendo ano após ano a caminhada do FC Porto. Helton não é claramente guarda-redes para mostrar segurança após um erro e essa mensagem passa à defesa, que quando em desvantagem, se vê à nora para voltar ao posicionamento e segurança habituais.

Sporting: Rochemback

Não consigo gostar de Fabio Rochemback. Está certo que é um jogador dotado de uma grande técnica, tem garra, é agressivo q.b. e tem um bom remate, mas tudo isso não compensa o seu fraco posicionamento, a sua falta de intensidade no jogo e sobretudo a sua lentidão. Ainda no tempo de Peseiro tinha a sensação que o ribatejano tinha uma boa conceptualização táctica mas faltavam-lhe peças para a pôr em prática. Tinga foi dos jogadores mais gozados pelos adeptos, mas sempre achei que as suas constantes expulsões e fracas performances se deviam sobretudo ao facto de ter que ser trinco e médio direito ao mesmo tempo, visto que Rochemback descaía demasiado para o meio, mandando assim o losango às malvas. Hoje, bem vistas as coisas, Rochemback é o mesmo desse tempo, um jogador que não recupera (compará-lo as suas funções com o seu colega do outro lado do campo - Izmailov - é doloroso para o brasileiro), que não tem capacidade para fazer transição rápida e que por vezes mostra um desinteresse gritante pelo jogo capaz de enfurecer o mais calmo do adeptos sportinguistas. Que pena não haver mais um Izmailov para o lado direito..

Benfica: Suazo

David Suazo é um daqueles avançados à moda antiga: forte como um touro, raçudo e com capacidade para quebrar o gelo em qualquer situação adversa, contudo não é por acaso que Mourinho o dispensou do Inter. Suazo é um avançado que raramente vem buscar jogo atrás, é trabalhador mas apenas perto da àrea, pois vive de arranques fortes mas de curta duração, assim como de rotações que, para terem sucesso, têm que ser efectuadas perto ou dentro da área. Contudo, sem alguém para municiar em condições (seria Aimar, se recebesse a bola com espaço para a libertar em condições para o avançado ou simplesmente, outro avançado ao seu lado), Suazo torna-se numa peça prescindível, pois não tem a criatividade que um avançado a jogar sozinho necessita. E, por fim, existe o factor Cardozo a ameaçá-lo: o paraguaio tem demonstrado muito mais faro pelo golo que o hondurenho em iguais oportunidades, isto é, o Benfica tem cada vez mais a ganhar com o afastamento de Suazo da equipa. Agora é esperar para ver como Quique gere a situação.

Monday, February 09, 2009

For The Record

Vale a pena recordar alguns dos recordes que têm vindo a ser batidos nos últimos dias, pois são história a acontecer:

Real Madrid: Melhor Marcador de sempre:
Raúl Gonzaléz: 307 golos (ex-aequo com Di Stéfano)

Real Madrid: Guarda-Redes com mais jogos pelo clube:

Iker Casilhas: 454 jogos (ex-aequo com Buyo)

Barcelona: Golo 5000:
Leo Messi

Benfica: Golo 5000:
David Suazo

La Liga: Melhor primeira volta do campeonato:
FC Barcelona: 50 pontos (16V, 2E, 1D)

Premier League: Guarda-Redes mais tempo sem sofrer golos:
Van der Sar: 1212 minutos

Premier League: Golos em diferentes edições da competição:
Ryan Giggs: 17 edições (1991/2 a 2008/9)

Premier League: Mais jogos na competição (desde o ínicio do actual formato em 1991/2):
David James: 535 jogos

Portugal a banhos

Não, não é a anual crónica de começo da época balnear e do calor, é simplesmente um retrato do que se passou este domingo, 8 de Fevereiro de 2009.

Aqui no "Crónicas" nunca revelámos abertamente a cor clubística de cada um dos nossos intervenientes e foi nosso desejo, desde o início, demonstrar diferentes pontos de vista proporcionados por essas mesmas diferenças clubísticas, a fim de promover um salutar e interessante debate de opiniões para quem gosta de futebol como nós. Por outro lado, não é preciso ser nenhum "Einstein" para perceber por quem torce cada um dos nossos cronistas (eu incluído), bem pelo contrário, bastam apenas dois dedos de testa e duas linhas para o perceber. Se os nossos leitores mesmo assim não o conseguem entender então estamos mal... mas partiremos do princípio que está tudo muito claro.

Voltando ao título desta crónica, o País esteve a banhos este domingo com o Sporting-Sp. Braga e o Porto-Benfica. E este a banhos porquê, perguntará o leitor. Muito simples: Sporting e Porto a jogar em casa e (a expressão é mesmo assim) "levaram um banho de bola" de Sp. Braga e Benfica.

Em Alvalade o Sporting nunca se conseguiu superiorizar em momento algum aos minhotos, que podiam ter saído de Alvalade com uma vitória por números históricos, e até nos lances que deram golo para o Braga houve várias oportunidades para poderem marcar. O Sporting, apesar da rotatividade levada a cabo por Paulo Bento, pareceu uma equipa cansada e sem ideias e nem os fogachos de Vukcevic fizeram esquecer Liedson desta vez.

No Dragão, o "tri-campeão" Porto, com quase duas semanas de descanso, voltou a não conseguir demonstrar que é superior ao Benfica, tal como havia acontecido na 1ª volta. Voltou a marcar só de "penalty" e Jesualdo Ferreira voltou a demonstrar que é um treinador absolutamente banal, insípido, pouco inteligente nas substituições e lento de processos. Não conseguiu vencer o Benfica a jogar com mais um durante cerca de 40 minutos e ontem foi dominado em casa por um adversário que ele próprio vinha rotulando de frágil e intermitente. Além disso, continua a escudar-se em análises pós-jogo que não se adequam à realidade que todos viram e quando lhe perguntam sobre a exibição do árbitro fecha-se num casulo que seria de bom-senso mas que não passa de uma imitação barata da virgem ofendida. Excepção feita a três remates de Hulk na 2ª parte, para defesas difíceis mas seguras de Moreira, o Porto foi um deserto de ideias e mesmo Lucho, em determinadas alturas, não teve discernimento para conduzir o jogo dos portistas. Na 1ª parte, sem dúvida que houve um ascendente do Porto, com dois ou três remates que nem chegaram a importunar Moreira ou que levaram a defesas fáceis para o guardião da turma da Luz, sendo que as verdadeiras oportunidades de perigo e de golo foram para os encarnados: Reyes, por duas vezes, e Yebda, no lance do golo.

Na 2ª parte, o Porto continuou no deserto de ideias, à excepção dos lances de Hulk já referidos, e foi o Benfica que dominou e controlou o ritmo de jogo a seu bel-prazer e podia ter ampliado e muito a vantagem, com Suazo, Amorim e Di Maria a terem a oportunidade de matar o jogo.
Mas em equipas deste nível é sempre de esperar que os artistas tirem um coelho da cartola e resolvam o jogo. Aimar, Cardozo, Di Maria, Reyes, Lucho, Lisandro, Hulk, Rodriguez... não, o artista foi mesmo Pedro Proença, tirando um coelho que nem sequer saiu da cartola mas apenas e só da sua fértil imaginação, como o fazem as criancinhas nos seus mundos de "faz-de-conta".
E assim resolveu um jogo e um resultado que humilharia os portistas, que nem sequer vieram pedir justificações aos seus jogadores e treinador e foi vê-los a ir embora "com o rabinho entre as pernas", porque empataram um jogo (onde estavam a ser dominados) com tal acto de ladroagem.
Corrijam-me se estiver enganado: os árbitros são pagos para apitar o que vêm, certo? O que viu Pedro Proença? Acho que ninguém saberá porque seria uma qualquer fantasia demasiado rebuscada para fazer qualquer tipo de sentido. Parafraseando o título deste texto, foi mais uma "banhada".

Luisão, na zona mista e após o jogo, fez uma declaração que me deixou ao mesmo tempo chocado e preocupado, por várias razões: "Os árbitros também são profissionais e também erram" terão sido as palavras do central brasileiro. Isto vem demonstrar algumas coisas: há jogadores que pensam que os árbitros são profissionais exclusivamente dedicados ao seu trabalho, como todos os outros intervenientes no futebol; e se os jogadores erram e são punidos, porque não hão-de ser punidos também os árbitros?
Mas também devo dizer uma coisa caros leitores: profissionalizar estes árbitros? Também não me parece que seja a solução. Aqui a palavra "irradiação" vem-me à mente e de repente lembro-me das palavras de Al Pacino em "O Advogado do Diabo": "Até que a podridão os sufoque a todos!"
Dirão alguns: "mas todos têm razão de queixa". Mais uma razão para exigir explicações a esses abutres cegos, surdos e mudos que não deixam que o futebol continue o seu natural caminho. Cegos porque vêm e não apitam e apitam o que não vêm; surdos porque não são capazes de ouvir dirigentes, Federação, Liga e jogadores sobre o seu trabalho dentro das quatro linhas; mudos porque não são capazes de diálogo; abutres porque rapinam tudo e todos e vestem de preto.
Ora se todos têm razão de queixa e se arbitragens como a de Pedro Proença, Carlos Xistra, Bruno Paixão dão origem a críticas de todos os quadrantes do mundo do futebol, como se pode ficar parado?

Para finalizar, três notas muito rapidamente, as palavras de Derlei no final do jogo entre Sporting e Sp. Braga: "Os árbitros fazem o que querem e só os jogadores, treinadores e dirigentes é que são penalizados"; as "gordas" no site do jornal Record no final do jogo entre Porto e Benfica: "os dragões lograram o empate, quando aos 74' Lucho converteu uma grande penalidade a castigar falta de Yebda sobre Lisandro"... (sim a mim também me deu vontade de rir com a si, caro leitor); e uma reflexão final... entre os três grandes há uma qualidade que distingue os adeptos, treinadores, jogadores e dirigentes de Benfica e Sporting dos demais do Porto: a humildade de, na hora da derrota reconhecerem que o adversário foi superior. Pode-se chamar falta de chá, presunção, orgulho... eu chamo-lhe simplesmente estupidez.


NOTA: peço desde já desculpa por alguma linguagem deste texto mas a verdade é que não sou pago para ser imparcial como qualquer jornalista devia ser nem para ser politicamente correcto, nem sou sequer pago para escrever. Escrevi o que me vai na alma, que ao que parece dói a muita gente que se esconde num clubismo cego para não ver a realidade. Como sempre aqui no "Crónicas", venham as críticas, os pontos de vista, o debate! Sempre à vossa disposição.

PS: sempre gostei de "sitcoms" e outras séries de gargalhada fácil e há algumas que nunca perco e vejo todas as semanas: Family Guy, Seinfeld e a crónica de Miguel Sousa Tavares no jornal "A Bola".