Monday, August 04, 2008

Bola de Ouro: quem ganhará?

Antes do Europeu a decisão era fácil: Cristiano Ronaldo. A temporada que fez ao nível de clubes foi avassaladora e deixou a decisão praticamente tomada. Porém, a mediana performance do português no Europeu fez com que outros nomes espreitassem, tornando a escolha mais renhida: são esses nomes os de Iker Casillas e de Fernando Torres.

O primeiro foi campeão espanhol e ganhou o Europeu, aliando ainda o premio Zamora (guarda-redes menos batido da La Liga) às suas conquistas; quanto ao segundo, ganhou igualmente o Europeu, foi decisivo na final ao marcar o golo da vitória e foi o 2º melhor marcador em Inglaterra. Bem vistas as coisas, a decisão é agora árdua, garantindo que tudo o que os jogadores façam até Novembro/Dezembro possa ser decisivo para o voto do júri.

Para ajudar a ver o panorama geral, recorramos às estatísticas:







Para mim é claro: pela carreira escolho Casillas. Pela performance global, é Cristiano Ronaldo. Talvez pelo excesso de mediatismo do madeirense, fico-me por Casillas. Seria justo e bom para o futebol a escolha em Casillas pela representação do profissionalismo, solidariedade e trabalho.

Ao invés, se Ronaldo ganhar será o triunfo dos números, do individualismo e também do futebol negócio. O que não impede que, caso ganhe, seja completamente justo e merecido.

Friday, August 01, 2008

Os clubes "leiteiros" I

No futebol há clubes que funcionam de forma bastante diferente dos outros, consoante a sua visão económica do desporto, são eles:
  • clubes que, fruto da sua extensa massa adepta, são naturais investidores e não de preocupam em demasia com um retorno pela via de vendas de jogadores;
  • existem igualmente clubes que vivem à mercê dos bons resultados desportivos e da angariação de patrocinadores, vendendo e comprando jogadores sob uma lógica de equilíbrio;
  • existem ainda clubes que são dependentes das verbas que o governo da região concede, que vivem sob a constante ameaça de desaparecimento;
  • por fim, certos clubes têm uma visão do futebol como um negócio adaptado à ambição, isto é, clubes que para crescerem, compram barato, formam e depois vendem caro, isto é, os clubes que dão a matéria-prima aos gigantes da Europa - os leiteiros.
São destes últimos clubes que vos quero falar daqui em diante. Um dos exemplos mais claros desse modo de ver o futebol é o Olympique Lyonnais, ou como é conhecido na gíria, o Lyon.

Presidido desde 1987 por Jean-Michel Aulas, o clube havia vivido até aí como um parente pobre do campeonato francês, nunca se conseguindo impôr entre os mais fortes. Com uma visão de investimento, Aulas dotou o clube de infra-estruturas e acima de tudo, de sentido organizacional. No inicio da década de 90 e sob a orientação de Domenech, o clube conseguiu fixar-se na Ligue 1, aliando organização à ideia de formação. Escalando posições na Liga e fazendo as contratações certas, foi sem surpresa que o Lyon passou a estar cotado como favorito à conquista do título, algo que veio a acontecer em 2001. Pensou-se que a ideia de Aulas estava concretizada, mas não, o objectivo era outro: o da conquista francesa e europeia. Mas como consegui-lo numa era de "tubarões", em que os melhores jogadores são logo detectados e comprados, deixando um vazio difícil de preencher?

Para responder a isso basta ver quanto custou em média cada jogador do plantel actual do Lyon: Retirando três ou quatro jogadores formados pelo clube, cada restante jogador custou em média 3 a 5 milhões de euros. Tudo somado dá uma soma gritante, mas não passa tudo do resultado de anos a vender autênticas jóias acima de 15 milhões de euros, dando esse dinheiro para comprar jogadores de qualidade a nível interno e a preço mais razoável do que a campeonatos estrangeiros. Para melhor analisarmos as contas do Lyon, eis uma lista curta de negócios brilhantes efectuados nos últimos anos pelo clube:
  • Sylvain Wiltord (Custo zero do Arsenal, 1M p Rennes)
  • Florent Malouda (20M p/Chelsea)
  • Grégory Coupet (1,5M p/ Atl. Madrid)
  • Tiago (10M ao Chelsea, 13M p/ Juventus)
  • Essien (8M ao Bastia, 38M p/ Chelsea)
  • Mahamadou Diarra (€26 million p/ Real Madrid)
  • Alou Diarra (8M p/ Bordeaux)
  • John Carew (10M ao Besiktas, p/Aston Villa por Baros)
  • Nilmar (5M ao Internacional PA, 7M p/Corinthians)
  • Luyindula (10M p Ol. Marselha)
  • Ben Arfa (Escolas, 8M p/ Ol. Marselha)
  • Abidal (15M p/ Barcelona)
No total de vendas a módica quantia de 147.5M de Euros. Mas a chave não está aí, mas sim em quanto o conjunto dos jogadores custaram: ainda que haja pouca informação, julga-se que custaram à volta de 40 a 50M. Surpreendente. E aina mais se tivermos em conta que o clube ganhou todos os títulos franceses desde 2001, isto é, sete títulos consecutivos, com vários treinadores e jogadores diferentes.

A explicação para o sucesso, na minha perspectiva está claramente na capacidade de comprar bons jogadores a preços razoáveis, passar-lhes a identidade e cultura do clube (Juninho, Sonny Anderson e Coupet - entretanto vendido - são figuras exímias dessa tarefa) e dá-los a conhecer na maior competição continental - a Champions League - sem medo de os atirar às feras, garantindo-lhes igualmente a visibilidade necessária para que sejam chamados às respectivas selecções e o seu valor de mercado aumente e seja assim vendido por uma excelente quantia a um gigante da Europa. Ao jogador apenas é-lhe pedido que jogue tudo aquilo que sabe, sem pressões extra*. Aos clubes que os contratam, apenas se pede que tenham dinheiro (fazem parte do primeiro grupo de clubes que referi anteriormente).
Para finalizar, não há bela sem senão. Ao vender as suas melhores unidade, o clube perde as forças necessárias para enfrentar a Champions de maneira equivalente aos gigantes que fornece. Se bem que consiga garantir de forma mais ou menos fácil a Ligue 1, ao nível da Champions o clube ainda não conseguiu passar o trauma dos quartos-de-final. Ainda assim, e tal como o FC Porto o fez, pode ser que, aquando uma excelente fornada de jogadores e um treinador ambicioso, o clube consiga finalmente a glória europeia. Neste ano o Lyon conta com o poder de fogo de Benzema, a atitude ofensiva de Källström, o dinamismo de Toulalan, a vontade de Lloris, a força de Mensah, o virtuosismo de César Delgado, a ânsia de Baros, a finalização de Fred e, claro, o eterno Juninho. Motivos mais que suficientes para sonhar.