Wednesday, December 27, 2006

Lyon - Os problemas da soberania

O jornal francês L'Equipe divulgou o melhor "onze" de 2006 em França. O Lyon, campeão 2005/06 e actual líder é a equipa destacada, preenchendo quase todos os lugares da equipa ideal. Assim temos do Lyon:

Coupet, Réveillère, Cris, Squillaci, Abidal, Juninho, Tiago, Malouda, Fred.

Quanto aos "traidores", estes são Pauleta do PSG e Ribery do Marselha (curiosamente ambos falados como reforços do Lyon antes do actual campeonato, prova de que o Lyon sabe donde vem o perigo interno).

Quanto ao treinador do ano, este foi Gerard Houllier (quem diria...).

E assim vai o campeonato francês, chato e pouco apelativo, fazendo lembrar os tempos do Penta portista. Convém relembrar que nesse tempo o FC Porto nada ganhou a nível europeu, tal como tem vindo a acontecer com o Lyon. Eu não acredito em coincidências, e como tal, cheira-me que também não é este ano que o Lyon triunfará na Champions. Falta-lhe competição interna que lhe permita manter um nível exibicional forte e acima de tudo, que lhe dê mais concentração.

Faltam ao Lyon mecanismos de defesa face a equipas de outros campeonatos. Em França é fácil porque as equipas são medrosas e só ganham pontos ao Lyon jogando em contra-ataque ou metendo o autocarro frente à baliza. Assim, quando jogarem contra uma equipa como o Barcelona (que nada tem a ver com o Real Madrid em fase de construção que o Lyon ganhou na fase de grupos da Champions) ou os matreiros Chelsea e Milan, o futebol francês cairá mais uma vez. E aí resta a inspiração de Juninho. O que mesmo assim, já não é mau mas pode vir a ser insuficiente.

Friday, December 22, 2006

Resultados da lotaria

O presidente do Real Madrid revelou que lhe saiu o maior prémio da lotaria com a contratação de Fernando Gago. Talvez mais felizes estejam ainda os responsáveis do Boca Juniors com os 20 milhões de euros encaixados no negócio. Também foram distribuídos prémios em Sevilha, com o empate do Barcelona face ao Atlético de Madrid (que coloca a equipa sevilhana isolada na Liga) e com os 300.000 euros ganhos pelo presidente andaluz Del Nido na lotaria de Natal (sim, é verídico, o próprio o confirmou).

Thursday, December 21, 2006

O Sucesso da Aliança

Dando continuação ao que o Rui observou sobre a aliança luso-inglesa, há que referir que neste momento, existem mais pontos a favor do que contra. Pode-se dizer que a retaliação do mapa cor-de-rosa demorou, mas aconteceu. Ainda por cima onde dói mais aos ingleses: na sua cultura.

O futebol significa mais para os ingleses do que para os portugueses. Claro está que não posso medir pela paixão, mas como inventores modernos do futebol e possuidores do melhor campeonato do mundo (são as votações que o dizem), os ingleses fazem questão de se gabar desse estatuto histórico-cultural. Aliás, o treinador campeão do mundo por Inglaterra em 1966 - Alf Ramsey - representa toda a arrogância do adepto inglês quando instado a falar ou agir sobre outros campeonatos. O episódio em que não deixou os jogadores argentinos trocarem de camisola com os ingleses nesse Mundial, ainda hoje perdura na memória colectiva como um dos maiores actos de soberba futebolística. Isso é passado, pensarão a maior parte das pessoas. Quanto aos ingleses, isso ainda está bem presente.

Cristiano Ronaldo é neste momento, a par de Messi, o melhor jovem da actualidade. Para os ingleses, é um mergulhador. Para os ingleses John Terry é um grande central e Ricardo Carvalho é um mero complemento. Para os ingleses Boa Morte foi formado no Arsenal e não em Portugal. Estes são apenas alguns exemplos de como são vistos os portugueses em Inglaterra.

Contudo, quando falam de Mourinho, os ingleses preferem falar de sorte ou de dinheiro como essenciais para o seu sucesso. Para mim, não passa de uma outra forma de evitar o reconhecimento pelo trabalho efectuado pelo manager de Setúbal, isto é, Mourinho representa toda a inveja de um povo que já não acredita nos seus treinadores e aos poucos, vai perdendo a crença na sua selecção. Sim, é cruel. Mas também é verdade, senão as 4 principais equipas de Inglaterra seriam treinadas por ingleses e não por um português, um francês, um espanhol e um escocês. Pior ainda, se não fosse Mourinho, jogadores como Terry, Joe Cole ou Lampard nunca atingiriam o estrelato. Mourinho é neste momento o melhor amigo da selecção inglesa, tal como se pode dizer que Ferguson foi o melhor amigo da portuguesa quando levou para Manchester um puto com potencial mas ainda muito verde.

Resumidamente, o panorama no futebol inglês é hoje suportado por não-ingleses. Desde os melhores treinadores, aos donos dos clubes, aos melhores jogadores e à fase Eriksson, de inglês, a Premierleague tinha só mesmo o adepto. É ele ainda a maior força do futebol inglês, mas mesmo esta força está em risco. Recentemente, Ferguson avisou que existiam jogos em Old Trafford em iam mais turistas que adeptos do clube.

Embora os plantéis em Portugal possuam à volta de um terço de brasileiros, não acredito que estejamos tão seriamente em risco como os Ingleses. E isso, por si só, já é uma vitória nossa.

Wednesday, December 20, 2006

O (suposto) renascimento de Drogba

Segundo as palavras de Alex Ferguson, o Chelsea este ano não está tão forte como nas duas últimas épocas. A excepção, pensará talvez Ferguson e muito espectador, será o marfinenses Drogba. Verdade seja dita, Didier está numa forma incrível, como comprovam as suas estatísticas nesta época: 15 golos em 24 jogos!

Habituado a ser visto como um avançado raçudo mas pouco efectivo, Drogba resolveu este ano dar numa de Luca Toni e assim golear as balizas adversárias. Ainda sob o gosto do último golo contra o Everton, nota-se em Drogba uma melhor inclusão no estilo de jogo do Chelsea e do futebol inglês, sendo também de destacar o papel de Shevchenko, que apesar de não facturar como o fazia em Itália, arrasta consigo defesas que por sua vez não podem estar com Drogba. Meritório papel o Sheva embora, no papel, o contrário fosse o mais provável de acontecer.

Quanto ao renascimento do próprio Drogba, este não é efectivo, visto o marfinense ter realizado uma época sensacional no bi-campeonato do Chelsea. Não com golos, mas com muitas assistências e muito trabalho para os defesas. Pode-se pois falar de uma transformação, mas não de um renascimento, dado que Drogba nunca deixou de marcar golos desde 2002, senão vejamos:

02-03 Guingamp - 17 Golos, 34 Jogos (0.5 golos p/ jogo)
03-04 Marselha - 29 Golos, 41 Jogos (0.7)
04-05 Chelsea - 15 Golos, 35 Jogos (0.4)
05-06 Chelsea - 13 Golos, 36 Jogos (0.4)
06-07 Chelsea - 15 Golos, 18 Jogos (0.8)

É claro que esta época já igualou o seu melhor registo anual desde que está em Inglaterra, mas isso é consequência natural de uma adaptação progressiva a um futebol mais rápido, agressivo e equilibrado que o francês.

A Velha Aliança

Desde a derrota com Portugal no Mundial de 2006 que os ingleses fizeram de Cristiano Ronaldo o bode expiatório de mais um fracasso inglês no futebol internacional.
O craque português, desde então, é constantemente assobiado sempre que o Man Utd joga fora de casa. Ainda no recente jogo para a Premiership contra o Middlesbrough, Ronaldo "mergulhou" para o relvado arrancando um penalty a favor da sua equipa. Logo aí a comunicação social inglesa, profícua em tablóides da pior espécie (sim, os mesmos que empolaram os protestos do madeirense na expulsão de Rooney), caiu em cima de Ronaldo, acusando-o de ser um "mergulhador" nato, inventando até uma nova palavra, Ronalty!
Ora no jogo Everton-Chelsea, que o clube de José Mourinho venceu por 2-3, com dois golos fabulosos de Lampard e Drogba, ainda subsistia o empate quando Andrew Johnson, avançado do Everton, "mergulhou" na grande área à procura de uma falta pura e simplesmente inexistente. O árbitro, como seria de esperar, nada assinala.
Mourinho, como todos sabem, gosta de provocar, sobretudo quando tem razão. Daí que tenha suscitado a reacção consequente às suas declarações: acusou Andy Johnson de teatro. Logo se ergueram vozes dos responsáveis do Everton a exigir um pedido de desculpas do treinador português, uma pesada multa a aplicar pela federação inglesa e a ameaça de que, não existindo qualquer destas sanções, recorreriam aos tribunais por ter existido difamação ao striker do Everton.
Como diria um amigo meu: "ridículo"!
Não só acusam C. Ronaldo de ser um "mergulhador" nato como ainda defendem os jogadores ingleses que também o fazem. Sim, porque o fair play é muito bonito mas é só para alguns.
Parece-me é que os ingleses não conseguem aceitar o facto de dois portugueses serem o melhor jogador e o melhor treinador de terras de Sua Majestade e, ainda por cima, sejam mais populares do que a própria família real.
Nós portugueses, ao longo da História, também tivemos que engolir muitos sapos, sobretudo uma certa "facada nas costas" que aconteceu lá para o ano de 1890, devido a um problema com um mapa.

Monday, December 18, 2006

FIFA World Player 2006

Já havia vencido a prestigiada Bola de Ouro da France Football, foi agora eleito o melhor jogador do Mundo de 2006: Fabio Cannavaro.
Capitão da Squadra Azzurra no Mundial da Alemanha, guiando-a até ao ceptro, Cannavaro personifica tudo aquilo que um amante do futebol não gosta de ver destruído: uma jogada brilhante que acaba na bancada, um remate com selo de golo que afinal não chega ao destino. Mas também os desarmes, os tackles e a perfeita leitura da jogada para jogar na antecipação, são brilhantemente efectuados por este ágil defesa-central de 1,75m e 72kg. Com notável sentido posicional e capacidade de impulsão invulgar, temperamental, Cannavaro marca os adversários implacavel e destemidamente, sejam eles Henry, Eto'o, Villa ou Nei, Fogaça e Tomané.
Esta eleição também acabou com o reinado de Ronaldinho, eleito sucessivamente até então. Quanto a mim foi uma saudável escolha, por vários motivos: acabou com o peso dos nomes que ganham sozinhos fazendo com que o brasileiro tenha de "jogar à bola" para voltar a provar que é o nº1; acabou com o estigma de ter de eleger Ronaldinho enquanto este fosse jogador profissional; premiou, de facto, um campeão do Mundo e não alguém que se andou a "arrastar" na competição.
Por outro lado torna-se incompreensível como jogadores da classe de Maldini, Roberto Carlos ou Nesta não possam ter ganho também o troféu, sobretudo os dois primeiros: Maldini é uma lenda viva do futebol mundial e Roberto Carlos foi durante anos a fio o melhor lateral-esquerdo do Mundo, fazendo tremer os adversários com o seu pontapé-canhão e a sua velocidade. Aí se revela a hipocrisia da FIFA (mas também dos seleccionadores) sempre que tem de fazer esta eleição.
Mais: continuo sem perceber o que estava a fazer Zinedine Zidane naquele palco. Um jogador que faz um Mundial medíocre (no qual se aproveita apenas um jogo, contra a Espanha) e que na Final da competição fez o que toda a gente viu (o célebre coup de boule) tem de ser automaticamente excluído deste tipo de prémios, doa a quem doer. Por aqui se vê a força de Michel Platini e do contingente francês dentro da FIFA e da própria UEFA e se percebe o porquê do ex-capitão da selecção gaulesa avançar com uma candidatura contra Joseph Blatter.
Mais ainda: "é uma espécie de prémio de final de carreira para Zidane" dirão alguns. Seja. Mas pensem um pouco e chegarão a este veredicto: quantos jogadores fora-de-série não receberam prémios destes (falo da eleição de Zidane como melhor jogador do Mundial de 2006 e da eleição como 2º melhor jogador do Mundo)? Porque não o nosso Luís Figo, que fez um enormíssimo Mundial e ficou de mãos a abanar? Também ele estava em final de carreira, assim como outros ao longo do anos: Rui Costa, Zola, Maldini, R. Carlos só para citar os mais conhecidos.
Não quero aqui rebaixar, de maneira nenhuma, Zidane, um senhor do futebol mundial, mas sim questionar os senhores da FIFA e da UEFA, organizações que não se cansam de apregoar sempre nestas "galas" o famigerado fair play, mas que depois são os primeiros a excluir este parâmetro para uma eleição completamente à margem daquilo que defendem e das bandeiras que empunham.
Percebem o que eu digo quando falo de hipocrisia?

Sunday, December 17, 2006

Uma paixão diferente

"En Tokio y alrededores habitan 30 millones de seres ajenos a lo que es el fútbol, así que es imposible encontrarse con el ambiente que dan los aficionados. Hay apenas 200 seguidores culés y unos 1.000 colorados del Inter. El resto, los que llenarán el estadio de Yokohama, son fans de Ronaldinho o gente que quiere descubrir un nuevo deporte, porque cuando les hablas de fútbol es como si les hablaras en chino. Este Mundialito es en Japón, pero sería mejor en una ciudad de Europa o de Suramérica. Nosotros pondremos la pasión y ellos, que lo hacen muy bien, la organización... y la pasta, por supuesto."

Esta critica do jornalista Manolo Oliveros (Jornal AS) ao Mundialito de Clubes, antiga Taça Intercontinental, observa que são apenas os interesses económicos que permitem a realização do evento no Japão, pois os japoneses não vivem o futebol como os europeus ou sul-americanos. Segundo o mesmo jornalista apenas se encontravam na final uns 200 fiéis do Barcelona e uns 1000 do Internacional, sendo o resto fans de Ronaldinho e curiosos da modalidade futebol. Com estes dados, o jornalista acaba por sugerir que o evento se organiza na Europa ou na América do Sul, cabendo aos japoneses a organização e o investimento.

Ora bem, para além de ser uma tremenda injustiça face ao investimento efectuado, os japoneses gastam dinheiro no futebol porque veem nele algo que lhes pode trazer outro tipo de benefícios sem ser os económicos. Esses benefícios são, entre muitos, a aproximação ao resto do mundo de um país que só abriu as suas portas ao exterior há 2 séculos atrás e o incutir de uma paixão pelo futebol que ainda não é ampla em terras nipónicas. Mas que poderá vir a ser e, para isso, é necessário investimento na paixão, até porque esta é ainda (e espera-se que continue a ser) uma paixão limpa, sem hooligans ou hinchas fora de si.

Em resumo, não tenho dúvidas que os japoneses vivem o futebol de maneira tão intensa quanto europeus e sul-americanos, senão não enchiam sempre o estádio na final, mesmo com um frio de rachar. Visto isto, não tem cabimento que se deixe de fazer o Mundialito no Japão.

Thursday, December 14, 2006

Futebol: a democracidade desportiva

O futebol é um fenómeno global, que permite juntar povos e nações e que tem uma força mediática tremenda.
O futebol é também o desporto mais democrático do mundo, visto que permitiu , por exemplo, que uma pessoa como Diego Maradona com apenas 1,60m , nascido em Villa Fiorito , um dos bairros mais pobres da América do Sul se tornasse no maior ícone da Argentina e o seu principal embaixador internacional.
O futebol tem esta característica única de colocar em pé de igualdade pobres e ricos, jogadores talentosos e jogadores voluntariosos, de unir extremos que se defrontam num campo com regras definidas e onde vence o melhor (quem tem maiores recursos técnicos e não quem tem maiores recursos financeiros).
Num mundo cada vez mais globalizado e industrializado, o futebol surge como um espaço único de afirmação dos países, e uma possibilidade de se tornarem conhecidos á escala mundial uma vez que é conhecido e tem um acompanhamento á escala global.
È assim com o Brasil, e foi assim durante muitos anos com Portugal e o Benfica, que teve em Eusébio o seu maior embaixador. Olhando para trás, facilmente nos apercebemos na forma como o Estado Novo utilizava o futebol como uma extensão da sua afirmação europeia, foi assim no Mundial de 1966 em Inglaterra e nas conquistas europeias do Benfica em 1961 e 1962.
Para compreender melhor a força que o futebol tem, atente-se neste excerto de uma entrevista ao escritor António Lobo Antunes á revista Visão:
«[...] Visão:Ainda sonha com a guerra?
Lobo Antunes: (...) Apesar de tudo, penso que guardávamos uma parte sã que nos permitia continuar a funcionar. Os que não conseguiam são aqueles que, agora, aparecem nas consultas. Ao mesmo tempo havia coisas extraordinárias. Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques.
V: Parava a guerra?
L.A.: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos. Eu até percebo que se dispare contra um sócio do Porto, mas agora contra um do Benfica?
V: Não vou pôr isso na entrevista.
LA: Pode pôr. Pode pôr. Faz algum sentido dar um tiro num sócio do Benfica?»

Wednesday, December 13, 2006

Equipas-sensação: Itália, a Fiorentina de Prandelli

Volto a Itália para fazer referência a uma das equipas que melhor futebol pratica na Serie A: a Fiorentina.
Desde já uma palavra ao técnico Cesare Prandelli, vencedor da Panchina d'Oro (Banco de Ouro), prémio referente ao melhor treinador de cada época em Itália. De facto, o futebol praticado pelos viola nada tem a ver com o catenaccio italiano; quer dizer, os princípios de jogo são os mesmos: defesa sólida e coesa, rápidas saídas para o ataque após ganhar a posse de bola. Mas Prandelli só põe a equipa a jogar assim após estar em vantagem no marcador. Para alcançar essa vantagem a Fiorentina pratica um futebol ofensivo e asfixiante, com constantes mudanças de flanco e trocas de posição, num belo futebol apoiado em carrocel a fazer lembrar a laranja mecânica de Cruyff. Exagero? Vejam um jogo dos viola para tirar todas e quaisquer dúvidas. Agora a equipa.
Na baliza Prandelli pratica uma rotatividade entre Frey, ágil e espectacular, e Lobont, discreto e eficiente; qualquer que seja a escolha (a minha seria sempre em Frey) está assegurada a defesa das redes.
A defesa é composta por 4 elementos: Ujfalusi à direita, central de raiz, cumpre sempre bem a defender dado o seu poderio atlético mas peca no ataque por ser central "adaptado"; no centro estão Dainelli e Gamberini, ambos muito altos, fortes quer no jogo aéreo quer na marcação, têm algumas dificuldades quando confontando avançados rápidos e móveis; na esquerda está uma das revelações do calcio da época transacta: Manuel Pasqual (vindo do Arezzo da Serie B), um jogador que faz todo o corredor canhoto a defender e a atacar, com grande precisão no passe comprido e no cruzamento para a área, é um dos municiadores de Toni nestes lances e nas bolas paradas. Por aqui percebemos que a Fiorentina, quando tem a posse da bola, ataca sobretudo pelo lado esquerdo na transição defesa-ataque, normalmente feita por Paqual. Ujfalusi encosta nos centrais, fazendo uma linha a 3. Prandelli decidiu colocar Jorgensen como extremo-direito, um jogador rápido e objectivo, sempre em direcção à baliza ou à linha de fundo, compensando a pouca propensão ofensiva de Ujfalusi.
No meio-campo estão Jorgensen à direita; Donadel encostado aos centrais, um regista recuado ao estilo de Pirlo, tratando a bola com grande técnica, boa precisão de passe curto e longo, mas trabalhando sempre em prole da equipa, apesar de ser pouco móvel, na semelhança de, por exemplo, Custódio; um pouco à frente de Donadel está Liverani, um experiente médio de transição, que leva a bola para o ataque, não através de dribbles mas de passes bem medidos, estando sempre ao pé dos colegas de equipa para lhes dar uma linha de passe, com um pulmão assinalável; nos últimos jogos Prandelli tem optado por Pazienza (a outra opção é Blasi), um carregador de piano com pulmão inesgotável, o típico médio lutador italiano ao estilo de Gattuso ou Brocchi, mas que sabe tratar a bola e endossá-la a quem tem por missão organizar o jogo ofensivo; na esquerda, jogando solto em diagonais para o centro (um pouco à semelhança de Nedved na Juventus) está Mutu, que aparece renascido das cinzas depois do consumo de cocaína que o fez parar de jogar, desenvolvendo um futebol alegre e agressivo, sempre em progressão à procura do passe de morte para Toni ou do seu colocado remate.
Na frente de ataque, o bombardeiro Luca Toni chega e sobra para as encomendas: melhor marcador da Serie A e Bota de Ouro da época passada, com 31 golos em 38 jogos. Um avançado alto e possante, com grande sentido posicional e instinto goleador, que apesar da altura (1,96m) tem na recepção da bola e no remate as suas armas mais mortíferas. Sem dúvida que, se tem despontado um pouco mais cedo para o estrelato (tem agora 29 anos), estaria numa equipa de topo do futebol mundial.
Como percebemos, em termos atacantes a equipa toma uma dinâmica muito própria: na ala esquerda solta Pasqual para posições mais de extremo do que lateral, e também Mutu, que passa a funcionar como 2º ponta-de-lança, deambulando nas costas de Toni. Donadel e Liverani funcionam como bóias de auxílio quando a equipa não consegue progressão, dando uma linha de passe e prontos para porem a bola no flanco oposto, onde Jorgensen dispara em tabelinhas com os médios ou com Mutu. A equipa nunca perde o seu equilíbrio, porque os centrais ficam auxiliados pelo falso lateral-direito Ujfalusi e por Pazienza, sempre mais activo na luta pela bola do que em funções ofensivas, onde recua para dar lugar à subida de Donadel.
Esta Fiorentina está em 16º lugar na Serie A com 11 pontos e com registo de 8V 2E 5D, 22GM 15GS, os viola estariam hoje no 4º lugar, mas os 15 pontos negativos com que começaram a época no rescaldo do calciocaos, assim não o permitem.
Procurem ver um jogo desta Fiorentina de Cesare Prandelli para, além de assistirem a um belo jogo de futebol, compreenderem melhor o que escrevo aqui.

Tuesday, December 12, 2006

Dr. João Paulo Almeida M.D.

Ultimamente sempre que se fala de forma mais profunda da actualidade benfiquista, um tema acaba por surgir invariavelmente: o departamento médico, chefiado pelo Dr. João Paulo Almeida.

Têm sido diversas as situações em que se nota ineficácia por parte deste orgão fundamental da equipa técnica, entre as quais os casos clínicos de Rui Costa e Mantorras. Não sou médico para julgar o trabalho de outros médicos, no entanto e enquanto espectador, consigo aperceber-me que algo vai mal para os lados da Luz e que o azar não explica tudo.

No caso de Mantorras, uma primeira lesão levou o jogador para os cuidados médicos durante meses a fio, tendo o angolano voltado para a equipa principal onde rapidamente se voltou a lesionar. Enganaram-se os médicos na previsão de recuperação do jogador ou o azar explica tudo? O que se ressalva é que durante mais um ano Mantorras andou às voltas com a lesão, ora recuperando, ora agravando, sem nunca se recompôr inteiramente. Entre essas voltas contribuiu o angolano com alguns golos que ajudaram a decidir o campeão e depois disso, nova quebra de forma onde as lesões de novo voltaram a assombrar o jogador. Que se trata de um problema crónico no joelho é hoje ponto assente, mas que se martirize o jogador é outra conversa. A imagem de Mantorras a entrar em campo contra a Naval e em pouco tempo vê-lo a coxear, tentanto perceber se estaria tudo no sítio é sintomático do drama do jogador.

Um outro caso é o de Rui Costa, esse com mais impacto pois a sua lesão implicou, quanto a mim, a perda de uma unidade fundamental no ataque à Liga dos Campeões. Perdeu-se a Champions, fica a UEFA, onde espera-se que o maestro mostre ainda alguma da magia que o tornou num dos melhores números 10 da última década. Quanto à sua lesão, o caso também é conhecido e aí a culpa a imputar é à clínica da qual o Benfica se serviu para análises ao jogador. No entanto, também aqui o departamento médico do Benfica assume culpa, pois necessita este de aprimorar os diversos orgãos fora do clube com quem trabalha, pois só assim é possível existir um esforço conjunto no mesmo sentido. Se não faz sentido que o Benfica peça análises a um hospital público (sob pena de demorarem meses a chegar), então que as clínicas privadas com que trabalha sejam fiáveis é o mínimo que se lhes pede.

Por fim, deparamo-nos actualmente com o caso Miccoli. Lesionado no jogo antes do dérbi, conseguiu uma miraculosa recuperação (algo que para mim não existe no meio futebolístico pois é impossível que um jogador "finte" uma lesão e se apresente a 100% para o próximo jogo) e acabou por ajudar a ganhar em Alvalade. Contudo, a lesão continuava lá e o esforço dispendido acabou por trazer problemas, apresentando-se hoje o jogador fora dos convocados para os próximos jogos.

A minha pergunta, depois de exemplificados estes casos, é de quem manda na forma física do plantel: a necessidade do treinador contar com o jogador para os jogos importantes ou a alta clínica do jogador?

Thursday, December 07, 2006

UEFA Team of the Year 2006

Em resposta ao "desafio" lançado pelo co-fundador do "Crónicas da Bola" cá estão as minhas escolhas para a equipa do ano:

Buffon: elástico, experiente, espectacular, em suma, o guarda-redes.

Daniel Alves: sem dúvida que é hoje o melhor lateral-direito do Mundo. Um dos esteios das conquistas do Sevilha. Pena que Dunga opte (mal) por Maicon na Canarinha.

John Terry: a alma do Chelsea, líder incontestável da formação de Mourinho e da Selecção Inglesa.

Fabio Cannavaro: "termina" brilhantemente uma carreira recheada de sucessos. Um Mundial de excepção onde demonstrou todos os seus dotes de "destruidor de esperanças" e a conquista da Bola de Ouro. Notável!

Philipp Lahm: jogador de uma alta regularidade impressionante. Fez um grande Mundial, onde marcou um dos golos mais vistosos. Explodiu finalmente depois de "rodar" no Estugarda.

Steven Gerrard(cap): o esteio da equipa de Liverpool impressiona pela sua pujança física, técnica, remate portentoso e capacidade de liderança. Pena que Benítez teime em colocá-lo a médio-direito.

Cesc Fabregas: um "miúdo" cheio de talento. Surgiu lentamente na sombra de Vieira; quando o francês se mudou para o Inter agarrou o lugar na equipa de Wenger com 17 anos. Sem dúvida um dos craques do futuro, a par de Moutinho e M. Fernandes.

Kaká: o jogador brasileiro em melhor forma da actualidade. Carrega, "sozinho", com o Milan às costas. Velocidade, técnica, dribble, remate, potência física e capacidade de explosão. Um dos melhores do Mundo!

Ronaldinho: não o teria escolhido, não fosse a "má qualidade" dos jogadores a eleger na sua posição. Quando votarem perceberão o que eu digo. Ano muito tremido, Mundial para esquecer, mas foi campeão europeu e encantou todos com a sua magia.

Luca Toni: não é um craque, não é malabarista, não é supersónico. É simplesmente letal! Bota de Ouro 2006 (38J, 31G).

Thierry Henry: um dos mais sub-valorizados avançados do futebol actual, porque ainda não ganhou qualquer prémio individual de relevo. Desde 1999 no Arsenal, leva 169 golos, uma média de 24 golos por temporada. Nada mau? Façam as contas! Pena que não queira sair para uma equipa que lhe recheasse o currículo: Henry no Barça seria simplesmente genial!

Frank Rijkaard (Treinador): o António já disse tudo: ganhou a Champions, a Liga e dá prazer aos espectadores ver o Barça a jogar. Sem dúvida.

Se ainda não votaram na UEFA Team of the Year 2006 façam-no aqui.

PS: quero só referir o facto de que Gerrard aparece como médio-direito e não como médio-centro; o que é pena porque escolhendo Gerrard como médio-centro dava para votar em C. Ronaldo como médio-direito. Hajas injustiças!

UEFA: Equipa do ano

Aqui estão os meus votos e a justificação:

Lehmann: Um dos grandes responsáveis pelo sucesso do Arsenal na Champions. Bom Mundial.

Daniel Alves: Actualmente o melhor do mundo na sua posição. Excelente época no Sevilha, recheada de bons momentos.

Gallas: Polivalente defesa com grande raça. Grande Mundial.

Terry (Cap): A voz de comando do Chelsea e por isso o capitão desta equipa. É provavelmente o melhor do mundo na sua posição.

Abidal: De bom recorte técnico, é um bom defesa que ataca muito e bem. Face às opções impostas pela votação, acaba por ser a melhor escolha.

Messi: O menino prodígio teve uma grande época. As opções de Basile no Mundial afectaram a sua performance.

Pirlo: Senhor jogador, teve um brilhante Mundial. Depois da 'reforma' de Rui Costa é hoje, talvez, o jogador com melhor visão de jogo da Europa.

Deco: Jogador de transição, é o pulmão do Barcelona. Quando se lhe nota quebra de rendimento, também o Barça quebra. 2 títulos e 4º lugar no Mundial em 2006

Ronaldinho: 2006 não foi a sua melhor época, mas ainda assim encantou o mundo futebolístico com a sua magia. A par de Messi e C. Ronaldo, irradia técnica e brilhantismo ao futebol.

Eto'o: Época fantástica, foi pichichi da Liga Espanhola e macou muitos golos na Champions. Merecia a presença no Mundial.

Larsson: 22 golos em 2006 dizem muito do seu rendimento e o facto do Man Utd não resistir a pedir os seus serviços por apenas 3 meses dizem ainda mais.

Rijkaard (Treinador): Conquistou Champions e Liga Espanhola, mantêm-se fiel a um estilo de jogo agradável ao público e ganhou as batalhas a Mourinho em 2006.


Votem também aqui

Equipas-sensação - Itália, o Palermo de Guidolin

Uma das equipas que melhor futebol está a praticar na Serie A é o empolgante Palermo, comandado por Francesco Guidolin.
Na baliza o experiente Fontana e o jovem Agliardi asseguram a inviolabilidade das suas redes. A defesa joga a 4, com Cassani à direita e Zaccardo à esquerda (defesa-direito de raiz mas adaptado com sucesso à esquerda, como Paulo Ferreira), ambos laterais bem italianos: seguros a defender, com bom posicionamento e jogo de cabeça, atacando consoante o jogo decorre pelo seu flanco ou não. Ao centro os regulares Biava e Barzagli (esteve no Mundial com a Squadra Azzurra) dão coesão ao sector.
No meio-campo estão Diana, sobre a faixa destra (auxiliando o lateral a defender e atacando com objectividade) e os "três carecas": Guana, médio-centro ao estilo de Pirlo; Corini (6 golos!), o capitão e patrão do sector, jogador temperamental que corre todo o jogo, estando sempre no sítio da bola para receber e passar, apesar dos seus 36 anos; e Bresciano, o australiano proveniente do Parma (também esteve no Mundial), que descai da ala canhota em diagonais para o centro, pois é destro. Outra opção regular de Guidolin recai sobre Fábio Simplício, brasileiro também proveniente do Parma, um jogador de força e raça, com apurado sentido de baliza e remate.
No ataque, em cunha entre os centrais, está o brasileiro Amauri, ex-Chievo, o goleador da equipa com 7 golos. Atrás como segundo ponta-de-lança, falso "dez" e falso "nove", joga Di Michele (5 golos), que deambula por toda a frente de ataque sempre à procura do passe letal para Amauri.
Uma bela equipa de futebol que sabe atacar como qualquer equipa latina e sabe defender como só as equipas italianas o fazem.
Estejam atentos portanto a este Palermo.

Ridículo!...

Quero só aqui mencionar um aspecto que me saltou à vista na edição de dia 2 de Dezembro do jornal "A Bola": na crónica do derby Sporting-Benfica, o editor Vítor Serpa reservou um quadradinho (como em todos os jogos) para as incidências do jogo ou pequenas curiosidades. Dizia então nesse espaço o seguinte: como é que o clube com mais sócios do Mundo não consegue encher um espaço destinado a cerca de 2000 pessoas no maior derby do País? Ridículo...
Pois é. Mas achará Vítor Serpa ridículo que peçam a um qualquer adepto 70 euros por um bilhete de um jogo de futebol? Nem nos jogos que decidem o campeão nacional os preços são tão altos. Acredite em mim Sr. Serpa: um vulgar adepto de futebol não vai querer pagar 70 euros por um bilhete, muito menos dar esse dinheiro ao seu maior rival, além de ter de se deslocar ao estádio do adversário, com todos os perigos que isso acarreta. Nem sequer irá dar esse dinheiro ao seu próprio clube, salvos raríssimas excepções.
É verdade que Vítor Serpa veio já desculpar-se com um editorial, devido ao facto de ter recebido inúmeros mails com conteúdos idênticos a este texto que vos escrevo, enaltecendo as vozes que ele pensava estarem "mortas". Mas para quem tem por hábito não entrar em mesquinhices e escrever sem qualquer tipo de tendencialismos...
Fica a intenção.

Favores?

Foi uma pena o Sporting e o Benfica não terem passado à fase seguinte da Champions League.
O Sporting tinha à partida o grupo mais complicado e, apesar de um bom começo, não conseguiu impor-se frente aos "tubarões" Inter e Bayern nem sequer frente ao Spartak de Moscovo que, com mérito, está na Taça UEFA.
O Porto beneficiou de estar no 2º pote para não ter de jogar com clubes bem mais fortes. Porém, o CSKA de Moscovo foi uma sombra da equipa que aterrorizou Alvalade, o Hamburgo decepcionou, com grandes jogadores e muitas lesões e onde só Van der Vaart, o mago holandês, se mostrou ao nível das suas capacidades. O jogo decisivo com o Arsenal foi em casa, com o empate a servir ás duas equipas e, por isso, um jogo insípido, de "fazer passar o tempo" só para o calendário. Ainda assim o mérito de ter chegado a esse jogo com a qualificação praticamente resolvida.
O Benfica fez jogos muito maus com o Copenhaga e o Celtic, ambos fora, averbando apenas 1 ponto nesses dois jogos, quando podia ter averbado, no mínimo 4, como de resto se viu nos jogos na Luz contra ambas as equipas. Deixou assim o apuramento "nas mãos" de uma quase utópica vitória em Manchester. O golo de Nélson ainda deu muita esperança aos benfiquistas mas o encolher da equipa e o constante despejar da bola traduziu-se no golo de Vidic, mesmo antes do intervalo. A estratégia de Fernando Santos em Alvalade não pode ser repetida durante 60 minutos em Old Trafford. O Man Utd não é o Sporting! O resto é história e só o capitão Simão Sabrosa conseguiu, de facto, provar que é jogador de outro campeonato na equipa da Luz.
O mais "engraçado" foi a conferência de imprensa de Alex Ferguson antes do jogo com o Celtic: disse, explicitamente, que como escocês queria que o Celtic passasse à fase seguinte da Champions. E não é que perdeu mesmo com o Celtic, desperdiçando inglório penalty de Saha e inúmeras oportunidades de golo, com o Celtic a marcar num dos poucos lances que criou em toda a partida?
Parece-me óbvio demais. À atenção dos senhores da UEFA se faz favor.

Monday, December 04, 2006

AZ Alkmaar: esse ataque insaciável

Não há jogo do AZ que não termine com golos. Dito assim de forma crua pode significar que se trata de uma equipa que encaixa muitos golos ou pelo contrário, marca muitos. Pois bem, trata-se do último caso, para felicidade dos adeptos deste clube que, aos poucos, começam a aspirar a voos mais altos. Actualmente colocado no 2º lugar da tabela, o AZ sofre contudo do síndrome Sporting, isto é, a equipa claudica nos momentos de maior pressão, como atestam as suas 2 derrotas no campeonato: 3-1 em casa frente ao PSV e 3-2 fora com o Feyenoord. Pelo meio 2 empates a 2 golos (Twente e Den Haag) e 11 vitórias, decorridas que estão 15 jornadas da Eredivisie. Fica aqui então o registo dessas vitórias:

AZ 8 - 1 NAC Breda
Vitesse 1 - 3 AZ
NEC 0 - 2 AZ
Roda JC 0 - 2 AZ
Sparta Rotterdam 0 - 2 AZ
Willem II 0 - 4 AZ
AZ 5 - 1 FC Utrecht
RKC Waalwijk 0 - 2 AZ
AZ 5 - 0 Heracles Almelo
sc Heerenveen 1 - 3 AZ
AZ 5 - 0 Excelsior

De realçar as recentes goleadas impostas em casa. O melhor marcador da equipa é Koevermans com 12 golos. Arveladze tem 9.