Thursday, June 28, 2012

Portugal no Europeu 2012: 
Uma história de má sorte?




Ponto prévio: Para mim há sorte e azar no desporto. Por muito treino que exista, quem já chutou uma bola repetidas vezes ao mesmo alvo, sabe que o pé até pode embater exactamente no mesmo sitio que no remate anterior que a bola pode sair numa direcção totalmente oposta ao que queríamos. À vezes ao tentarmos melhorar um remate e quando pensamos que já acertámos na maneira correcta de o fazer, lá ficamos estarrecidos ao ver que a bola sai cada vez mais lado a cada nova tentativa. Claro que o vento, o tipo de bola, a força aplicada e o local exacto de contacto entre a bola e o pé nunca é o mesmo e todos estes factores são motivos de diferença, mas ainda assim, acredito que há uma componente de sorte no desporto. 

Sorte essa que normalmente, acompanha as equipas que mais a procuram, isto é, equipas que mais chutam, que mais dribles, desmarcações e automatismos tentam e que melhor posicionadas estão em campo. É habitual ouvirmos alguém queixar-se que os ressaltos vão sempre parar à mesma equipa, quando o posicionamento da mesma equipa é que dita a melhor ou pior probabilidade de reter a posse de bola. Ainda assim, e quando falamos em probabilidades, não podemos nunca descurar o factor aleatório, ou seja, a nua e crua sorte.

Neste sentido, acho que a prestação de Portugal no Europeu 2012 tem vários aspectos de sorte e de azar ao longo do torneio. Não concordo com Paulo Bento quando disse que faltou sorte à selecção, pois em alguns momentos fomos bafejados por ela. Entre esses momentos de fortuna, esteve o adversário dos Quartos-de-Final: a República Checa. Se analisarmos o leque das últimas oito equipas presentes no torneio, só a Grécia era um adversário acessível (ainda que o trauma de 2004 estivesse bem presente). Todas as outras são equipas com as quais Portugal tem histórico negativo (exceptuando os últimos anos face aos ingleses) e com as quais a decisão seria muito mais complicada do que a apresentada face à República Checa. 

Claro que podem dizer-me que só nos calhou esse rival porque saímos vivos do grupo da morte, ditado pelo azar do sorteio, mas a isso respondo que por não sermos cabeças-de-série, a probabilidade de calharmos num grupo difícil era logo à partida muito real. Certamente que os suecos também não gostaram do sorteio, tal como os croatas, todos eles concentrados em grupos igualmente complicados. Faltou sorte na tentativa de ir parar ao Grupo A (o da Grécia), mas ao mesmo tempo não foi mau ficarmos longe da história negra que temos com italianos, franceses e espanhóis.

Voltando ao rival dos Quartos-de-Final, achei igualmente afortunado não termos coincidido com a Rússia, a previsível campeã do grupo A que, por excesso de confiança, acabou por não passar à fase seguinte. Ao fim da primeira jornada da competição, admito, era a Rússia a equipa que mais temia, tanto pelo futebol praticado como pela personalidade demonstrada. Não passaram os russos e ainda bem, pois os checos e o seu futebol sólido mas pouco efusivo, foram presa fácil para um Portugal que tinha acabado de sair do grupo da morte com vontade de devorar o que lhe aparecesse no caminho. 

Nesse jogo, assim como já tinha acontecido nos jogos anteriores, a trave e os postes da baliza foram bons ajudantes dos guarda-redes adversários. Falou-se muito da falta de sorte dos portugueses e aí só posso concordar, pois não é muito normal enviar tantas bolas ao ferro em tão poucos jogos. Para cúmulo, foi também por aí que Portugal perdeu nas grandes penalidades contra a Espanha: Bruno Alves manda à trave e a bola ressalta para fora enquanto Fábregas manda ao poste e caprichosamente a bola entra na baliza. Faltou a sorte aqui que tivémos no remate de Van der Vaart ao poste ou nas perdidas de Van Persie e Huntelaar no jogo contra a Holanda, um dos mais bem conseguidos da selecção neste Europeu e ao mesmo tempo, um dos jogos onde o factor sorte não se virou contra nós.

Diz-se que a sorte protege os audazes, e aqui Paulo Bento pode ter razão se acrescentar que não houve neste Europeu selecção que merecesse mais sorte que Portugal face à coragem demonstrada (excepção aos primeiros 70 minutos do torneio). Em contrapartida, a Espanha está na final com um dos mais talentosos e brilhantes plantéis de que há memória e ainda assim, prefere refugiar-se num jogo de passe curto, só atacando pela certa, dominando apenas a posse de bola. Perde o futebol, ganha Platini.

Tuesday, February 07, 2012

Principais ligas europeias: Itália

Estes textos pretendem traduzir o que tem acontecido nos pricipais campeonatos europeus, a classificação, as equipas e jogadores em destaque.

Em Itália, o campeonato está bem aceso na luta pelos lugares cimeiros, com os seis primeiros separados por onze pontos.

Juventus segue na frente, com menos um jogo e mais um ponto do que o Milan e ainda sem derrotas. Desde há muito tempo que não se via a vecchia signora em tão boa posição para lutar pelo scudetto. Matri tem sido um dos grandes destaques na Juve.
O Milan e o seu fabuloso trio de ataque Ibrahimovic-Pato-Robinho têm estado também em grande forma, secundados por um meio-campo em bom plano, sobretudo Nocerino e Boateng.
Em terceiro e quarto lugares seguem a sensação Udinese, com o goleador Di Natale mais uma vez a fazer uma excelente época, e a Lazio, com Klose também em plano de destaque.
O Inter tem estado a fazer um campeonato muito irregular e nem mesmo com o regresso de Ranieri ao comando dos nerazzurri as coisas parecem correr de feição. Apesar de tudo, Milito continua em grande.
Depois de um começo titubeante, a Roma de Luís Enrique está agora no sexto posto, tendo vencido categoricamente o Inter na última jornada.
Como quase todas as equipas "menores" que ganham um lugar na Champions, no ano seguinte as coisas não correm tão bem no campeonato, maioritariamente porque os seus jogadores não estão habituados à rotina e sobrecarga de jogos: Assim se passa com o Nápoles, que segue em 7º lugar, seguido de Palermo, Génova e Fiorentina, todas equipas com jogadores para vôos mais altos do que as posições que ocupam.

Jogadores em destaque: Nocerino, emprestando classe e golos decisivos ao meio-campo do Milan; os eternos Totti e Del Piero, jogadores de grande categoria que continuam a ser decisivos na manobra das suas equipas; e para surpresa de todos, os grandes jogadores em destaque têm sido os avançados: Ibra, melhor marcador da prova, tem estado ao seu nível; o terrível goleador de Udine, Di Natale; Jovetic, jovem prodígio dos viola; Cavani e a sua veia goleadora; o nosso bem conhecido Miccoli; Denis, o novo ídolo do Atleti Azzurri; e Palacio, o móvel avançado do Génova.


Classificação Serie A 2011/2012



Taça da Liga



O último fim-de-semana serviu para ver quem são os apurados para as meias-finais da Taça da Liga 2011/2012.

O Gil Vicente ganhou um lugar na ronda seguinte ao vencer na deslocação a Alvalade, onde o Sporting só se pode queixar da falta de soluções ofensivas e defensivas. Depois de ter sido herói, Onyewu não merecia tamanho "castigo" ao fazer o penalty para o golo de Cláudio e correspondente segundo cartão amarelo. O lance deixou muitas dúvidas, parecendo que a falta foi fora da área. Apesar de uma boa reacção, os leões não conseguiram inverter o resultado, tendo até estado muito perto num lance de Carrilo, com um remate ao poste. O jovem peruano tem sido um dos mais inconformados e que tem causado maiores desiquilíbrios nas defesas contrárias.

O Porto recebeu e venceu o Setúbal, com os dois reforços de Inverno, Janko e o regressado Lucho, a marcarem na estreia. Com Lucho a comandar o meio-campo. bem secundado por Moutinho, e com as movimentações de Janko na frente, o Porto controlou as operações e, mesmo sem fazer um jogo brilhante, foi bastante mais sólido do que em partidas anteriores, o que permitiu aos azuis-e-brancos jogarem sem grande pressão e vencerem com tranquilidade.

O Benfica venceu o Marítimo, numa partida que se antecipava complicada para os encarnados, uma vez que os insulares foram a única equipa que havia vencido os da Luz. Num jogo aberto e bem disputado, o Marítimo podia ter aproveitado logo aos 3 minutos, por Sami, que isolado perante Eduardo não conseguiu marcar. Depois foi a vez de Saviola e Nélson Oliveira não conseguirem abrir o marcador, mas o jovem português, após assistência de el conejo, marcou mesmo no lance seguinte. No segundo tempo, a má decisão na expulsão de Pouga facilitou a vida ao Benfica, que marcou duas vezes, ambas por Rodrigo após assistências de Gaitán.


O Braga venceu tranquilamente o Portimonense com um golo de Hugo Viana, já nos final do jogo, garantindo também um lugar na fase seguinte da prova.


Meias-finais:


Benfica - Porto

Braga - Gil Vicente

Friday, February 03, 2012

Liga Portuguesa 17ª jornada

Aqui fica um breve resumo dos mais importantes jogos da 17ª jornada da Liga Zon Sagres.


Feirense 1 - 2 Benfica



O Feirense pratica um futebol agressivo, tem uma equipa lutadora e organizada e vendeu cara a derrota a este Benfica. Com Ludovic e Varela em bom plano, cedo se percebeu que o jogo não estava para jogadores menos agressivos como Aimar e Bruno César, ambos muito longe do seu rendimento habitual. Apesar de uma primeira parte bem disputada, com oportunidades de parte a parte (Rodrigo por duas vezes e Hugo Vieira num cruzamento que acabou por ir na direcção da bailza e tocou ainda na trave), o resultado manteve-se nulo até ao intervalo.
Na 2ª parte, o Feirense marcou de canto, por Varela, antecipando-se no primeiro poste à defensiva encarnada. Volvidos 4 minutos, o mesmo Varela desvia para a própria baliza, quando já estavam preparados dois jogadores do Benfica para finalizar o cruzamento de Maxi Pereira. Com a igualdade alcançada em tão pouco tempo, com as entradas de Nolito e Gaitán para os lugares de Bruno César e Aimar e a passagem de Witsel para o miolo, o Benfica carregou e logrou o empate, através de um penalty convertido por Cardozo, a castigar derrube de Rodrigo na área.

Até ao final de jogo, o Feirense deu boa réplica, nunca se coibindo de partir para cima do Benfica, com os encarnados a espreitarem o contra-ataque, podendo mesmo ter ampliado a vantagem perto do final, por Rodrigo, que fugiu a Varela e, isolado perante Paulo Lopes, permitiu a defesa do experiente guarda-redes.

Melhor em campo: Rodrigo - o avançado hispano-brasileiro teve uma mão-cheia de oportunidades e ainda "cavou" o penalty que deu a vitória aos encarnados; decisiva a entrada de Nolito, num jogo à sua medida

Gil Vicente 3 - 1 Porto



O Porto estava pressionado pelo resultado do Benfica e entrou talvez algo ansioso no jogo. A verdade é que a boa organização do Gil Vicente, que já tinha apresentado bons argumentos na jornada anterior na Luz, criou muitas dificuldades ao Porto e os seus jogadores, sobretudo no meio-campo, não conseguiram impor o seu jogo.
Cláudio, dando seguimento de cabeça ao um livre lateral, abriu o marcador para os gilistas. O mesmo Cláudio ampliou a vantagem através da marca de grande penalidade, a castigar mão na bola de Otamendi.
Na 2ª parte a toada foi a mesma: o Porto a não conseguir fazer ligação entre o meio-campo e o ataque e os gilistas a controlarem as operações, espreitando o contra-ataque. André Cunha, num grande lance individual em que "partiu" os rins a Rolando, fez o 3-0 e praticamente acabou com o jogo. Varela ainda reduziu aos 77 minutos mas o destino dos 3 pontos já estava traçado.
Os portistas queixam-se da arbitragem em dois ou três lances mal ajuizados, como uma cotovelada a Defour na grande área do Gil que passou impune, mas também os de Barcelos têm razões de queixa em outros tantos lances.
O que fica é um dos piores jogos, sobretudo colectivos, da equipa do Porto e quando não há individualidades que resolvam como já aconteceu anteriormente, nestes jogos menos conseguidos o Porto não consegue praticar um bom futebol e parece sem ideias em termos ofensivos.

Melhor em campo: Cláudio - o defesa gilista foi o goleador de serviço, marcou de cabeça num livre lateral e depois de penalty, ajudando e de que maneira a construir a vitória dos de Barcelos


Sporting 2 - 0 Beira-Mar



Num jogo que se previa à partida complicado, quer pelo momento menos bom do Sporting quer pelo adversário, os leões responderam com alguma dose de empenho e felicidade, que tanto tem faltado ao conjunto de Alvalade. Aliado a estes factores, a eficácia nos lances de bola parada "descomplicou" o jogo.
Onyewu, por duas vezes, fixou o resultado final, num jogo que o Sporting controlou na maior parte do tempo, mas onde o Beira-Mar teve alguma falta de eficácia e sorte (sobretudo em dois lances que atirou ao ferro da baliza de Rui Patrício), em suma, tudo aquilo que o Sporting teve e que, no final, fez a diferença.

Melhor em campo: Onyewu - o "Capitão América" resolveu o jogo com duas cabeçadas fulminantes, demonstrando mais uma vez toda a importância dos lances de bola parada e de "laboratório", onde o Sporting nos últimos tempos não tem conseguido fazer a diferença, nem em termos ofensivos nem defensivos.

Thursday, February 02, 2012

Notas sobre o Barcelona - Real Madrid



Se já antes era um clássico intenso, agora com a rivalidade Pep-Mou tornou-se irresistível de ver.
Eis algumas breves notas sobre o desenrolar do jogo:

- o Barça não merecia ter, sequer, empatado o jogo, quer pelo jogo jogado quer pelas oportunidades de golo

- o Barcelona fez o resultado em dois lances fortuitos, completamente contra a corrente do jogo; jogadas de génio de Messi na assistência para o golo de Pedro e pontapé fulminante de Dani Alves no 2-0(é preciso ter génios que decidam mas foram apenas dois lampejos num jogo muito cinzento dos catalães)

- o Real Madrid teve as melhores oportunidades na 1ª parte e desperdiçou por Ronaldo, Káká, Sérgio Ramos e Özil

- depois de dois golos em 5 minutos antes do intervalo, o Real veio para a 2ª parte a jogar e a carregar ainda mais do que na 1ª parte, quase fazendo a remontada

- o árbitro encarregou-se, como tem sido sempre nos últimos anos, de inclinar o campo a favor do Barça; talvez tenha perdoado a expulsão a Diarra (o 1º amarelo foi, no entanto, mal mostrado), mas o golo anulado a Ramos numa altura crucial do encontro e a sua expulsão, mais tarde, foram más decisões com influência directa e indirecta no resultado; nos lances divididos apitou sempre a favor dos catalães

- viu-se que, por vezes, o Barcelona não faz mais do que anti-jogo

- na altura de maior pressão do Real Madrid, o Barça desapareceu, não se viu Xavi, Piqué, Puyol (ainda deve andar à procura dos rins no lance do golo de Benzema) ou Fabregas pegarem no jogo e controlar o adversário, como muitas vezes fazem

- há adeptos dos blaugrana que ainda não devem ter unhas, tal o medo que sentiram quando perceberam que a sua equipa não tinha o controlo do jogo nem do resultado e viram o adversário reduzir a diferença no marcador; Camp Nou em silêncio durante muitos momentos

Notas finais: o Real Madrid fez um grande jogo e só não o ganhou porque o árbitro não deixou. Confesso que tenho uma relação de amor-ódio com este Barcelona. Não consigo ficar indiferente, como é óbvio, à classe de Messi, Xavi, Iniesta, Fabregas, Dani Alves, Puyol, Piqué e companheiros, ás suas geniais jogadas individuais e colectivas. Por outro lado, quando o Barça se põe em vantagem dou por mim a bocejar. Parece-me estar a ver um qualquer Paços de Ferreira ou Olhanense quando jogam contra um grande e se vêm a ganhar: é perder tempo, jogar no lance dividido e ir para o chão, o tempo a correr. O futebol do Barcelona passa num ápice de categórico a arrogante e sobranceiro e nunca é bom ter essa abordagem de "somos tão bons que ninguém nos ganha". E quando se vêm encurralados pelas circunstâncias de jogo, o Barcelona raramente sobrevive: empatou com o Real, perdeu pontos com Valência, Villarreal (que é de momento das mais fracas equipas de Espanha), Espanyol ou Getafe, sempre em jogos onde não conseguiu fazer valer esse futebol arrogante porque teve de correr atrás do prejuízo.

A equipa parece formatada para atacar e marcar primeiro, não tem um plano B nem recorre a jogadores de características diferentes. Tem um modelo de jogo sólido, anos a fio a ser limado na equipa principal e na cantera, onde os jogadores parecem fotocópias de fotocópias. Outra ponto que por vezes me surpreende é no plano defensivo. Tem um quarteto de luxo (Dani Alves-Piqué-Puyol-Abidal) mas a equipa não sabe...defender. Está de tal maneira formatada no plano ofensivo que muitas vezes esquece as transições defensivas e os movimentos defensivos colectivos, que não existem. Há um notório posicionamento de alguns jogadores para colmatar essa lacuna mas a equipa não consegue sofrer, não sabe jogar sem bola no plano defensivo. Parece meia-equipa. Os italianos, por seu turno, são mestres neste aspecto do jogo. Não é à toa que Mourinho ganhou com o Inter: os seus jogadores estavam talhados para determinados conceitos e momentos de jogo para os quais o Barça não tem a mínima ideia porque raramente passa por eles. Mas quando passa, claudica.

Alguns chamar-me-ão louco, mas pensem um pouco e vejam o Barça a jogar: toda a gente fica de tal maneira hipnotizada com o processo ofensivo que esquece tudo o resto.

Monday, January 23, 2012

Uma análise ao Sporting 2011/12



Não se fazem omoletes sem ovos. O chavão é mais que batido mas continua a servir na perfeição como metáfora de algo óbvio mas que alguns continuam sem ver ou perceber.


Assim se enquadra o momento do Sporting. Os adeptos, depois de anos a verem campeonatos correr como água debaixo da ponte, assim que vislumbram algo positivo entram em euforia, desejosos de ver cumpridas as suas ambições de mais um título. Isto acontece com todos os adeptos dos chamados grandes, nos últimos anos talvez menos com os de Benfica e Porto, mas apesar de tudo em semelhante medida. Os adeptos leoninos, sequiosos de vitórias ou de, simplesmente, ver bom futebol, entusiasmaram-se e com eles a equipa, que passou por um bom período de jogos com vitórias consecutivas, alguns momentos de bom futebol, golos, em suma, o vislumbre de uma equipa.


Mas os testes mais difíceis estavam para chegar e com eles claudicou o Sporting. Perdeu com o Benfica num jogo em que esteve praticamente uma parte em superioridade numérica, onde não foi capaz de criar uma situação de golo nem sequer para empatar o resultado. Depois em casa com o Porto também não foi capaz de ganhar, num empate que castigou duas equipas sem ambição, num jogo insípido e totalmente desprovido de interesse futebolísticamente falando, mas onde a vitória interessava mais ao Sporting para não se atrasar ainda mais face à concorrência e mostrar, perante os seus adeptos, que podiam conter com ele para a luta dos lugares da frente. Finalmente com o Braga, numa deslocação estes dias sempre difícil, o Sporting também não foi capaz de um futebol competitivo e, com dois erros defensivos tremendos, perdeu claramente. Os empates cedidos no início o novo ano podem ser explicados apenas pelo moral em baixa de uma equipa presa e a jogar já sobre brasas.

Vemos então que a equipa não estava ainda preparada para a competitividade face aos outros três maiores adversários, equipas com espinha dorsal e modelos de jogo definidos há vários anos. Mas nem Godinho Lopes, nem Luís Duque nem Domingos têm a receita da poção mágica nem dotes de magia para mascarar algumas das deficiências da equipa.
Desde logo a contratação de 19 novos jogadores, que proporciona muito trabalho para os entrosar, formar um grupo, adaptarem-se à realidade do clube e do futebol, do clima, do facto de terem cá a família, casa, carro e outros aspectos extra-futebol que os adeptos normalmente tendem a esquecer.


Tomemos como exemplo o primeiro ano de Jesus à frente do Benfica. Toda a gente achou um grande feito, ser campeão logo no primeiro ano, mas a verdade é que Jesus pouco ou nada fez em relação aos seus jogadores. O Benfica já tinha a matéria-prima: jogadores com vários anos de casa (Luisão, Quim, Maxi Pereira, Aimar, Cardozo), percebia-se o potencial de jogadores como David Luiz, Di Maria e Fábio Coentrão, que também já militavam na Luz há dois ou três anos. O que faltava ao Benfica era um modelo de jogo claro e alguém que pusesse as peças nos lugares certos para a máquina começar a funcionar. Aqui o trabalho de JJ foi perspicaz e importante. Com as boas exibições de pré-época de Di Maria e com Coetrão a mostrar serviço sabia que não podia jogar com os dois simultaneamente, então puxou Coetrão para lateral, sabendo do desejo do caxineiro em mostrar serviço. "Trancou" o meio-campo com as chegadas de duas pedras fundamentais para o modelo de jogo: um nº6 posicional, forte no momento defensivo, na ocupação dos espaços e sem vocação ofensiva (Javi Garcia) e com tão poucas unidades para defender, sabendo da propenção ofensiva dos laterais, teria que ter alguém do meio-campo que fizesse as recuperações nas transições defensivas e equilibrasse a equipa (Ramires). Mais à frente juntou Saviola a Cardozo, que tinha marcado 17 golos quase só na 2ª volta do campeonato, para lhe dar mais liberdade, com Aimar e Di Maria a municiar os dois. Assim, ao mesmo tempo que equilibrava a equipa, libertava algumas pedras fundamentais, os golos e as exibições apareceram em consequência e o Benfica voou para o título.

É nisto que o Sporting ainda tem de ter...paciência. Grande parte da matéria-prima não estava no clube, não há ainda um modelo de jogo bem difinido nem uma alternativa ao mesmo ou um plano B por assim dizer. Há experiências com os jogadores a rodarem por várias posiçõesem vez de criarem rotinas e não há referências em cada sector pois, seja por lesão ou mau desempenho, não tem havido jogadores indiscutíveis salvo talvez Schaars e João Pereira. O recente incidente de Bojinov mostrou que a equipa está intranquila e que, mais do que isso, não sabe o que está a fazer nem tem ainda confiança no seu método, procurando a todo o custo salvar-se a ela própria.

Faltam então as bases para criar um modelo de jogo sólido onde os jogadores o interpretem de olhos fechados, com rotinas entre posições e um onze-base mais fixo, onde as soluções e alternativas se adequem e encaixem, sem alterar a estrutura de raiz.