Sobre o que o António disse tenho algumas considerações a tecer.
No Benfica, os últimos grandes nomes a saírem do sector de formação, em inícios dos anos 90, dão pelo nome de Paulo Sousa e Rui Costa. Por aqui se vê o quão inoperante está o sector jovem do clube da águia. Daí para cá só praticamente Manuel Fernandes teve um impacto maior na equipa principal mas com todos estes vaivéns de empréstimos e vendas deixou algum mal-estar entre os adeptos que rapidamente esqueceram o seu contributo para a equipa, nomeadamente no título nacional de 2003/04. Outros nomes como João Pereira, João Coimbra, Miguel Vítor, Romeu Ribeiro, citando os mais recentes, ou Diogo Luís, Sousa, Pepa, Mawete, José Soares, entre muitos, ou foram desaproveitados ou nem tinham sequer qualidade para sonhar com a equipa principal. Já para não falar dos casos de Maniche e Deco.
Este problema da formação no Benfica já tem quase duas décadas.
Para mim o problema maior nem sequer está na formação em si mas, como referiu e bem o António, na falta de coragem dos sucessivos treinadores do clube da Luz em apostar na prata da casa. Camacho foi dos poucos que levou a cabo esta missão, lançando M. Fernandes e João Pereira, e agora Bynia.
Além disso os sectores jovens do clube pecam por excessiva falta de qualidade nos seus jogadores, vendo-se consecutivamente arredados dos títulos o que por sua vez também faça com que os treinadores da equipa principal nem sequer olhem para as camadas jovens em busca de soluções.
Também não estou a ver o sector da formação ser revitalizado pelos estrangeiros que estão a ser contratados aos magotes. Estes vêm juntar-se já a uma fase final do sector, os juniores, catapulta para a equipa principal. Não têm noção da realidade futebolística portuguesa em geral e muito menos do clube em particular. A mística não pode ser criada da noite para o dia e estes jovens estrangeiros, que me perdoem, mas não fazem a mínima ideia do que é envergar a camisola do clube que se ama, pelo qual se gastam rios de dinheiro todos os anos e pelo qual se é capaz de sentir as mais profundas emoções humanas. Se isto já faz pouco sentido para as novas gerações portuguesas de pequenos jogadores da bola, muito menos sentido fará no mercenarismo do futebol actual.
De facto é um problema que urge resolver no seio do clube encarnado e que agora, com o Seixal Futebol Campus, tem todas as condições para ser revitalizado de vez se os dirigentes encarnados, nomeadamente o seu presidente, assim o entenderem.
Quanto à excessiva contratação de jogadores brasileiros pelos clubes portugueses, porque não contam como extracomunitários ao abrigo de um acordo entre as duas federações, é outro problema mas que, neste caso, afecta o futebol nacional na sua globalidade. Este facto facto vem por sua vez retirar ainda mais hipóteses aos jovens portugueses, sejam oriundos dos sectores de formação dos clubes ou que estejam em fase intermédia das suas carreiras (dos 20 aos 23 anos sensivelmente), em pleno período de afirmação definitiva.
Quanto aos outros grandes, o Sporting é a única cantera em Portugal na verdadeira acepção da palavra. Forma os jovens desde tenra idade, incute-lhes a mentalidade do clube e treina o modelo de jogo da equipa principal. Os jovens surgem normalmente muito mais maduros e seguros do que os outros jogadores da sua idade.
O Porto exibe uma outra vertente: tem um bom sector de formação mas normalmente coloca-os a rodar em clubes de menor dimensão e raramente aproveita directamente um jogador do seu sector de formação (Bruno Alves será uma excepção actual). Aposta sobretudo em jovens formados noutros clubes mas moldando-os desde cedo aquela mentalidade à Porto que tão bem conhecemos. Bosingwa, R. Meireles, Pepe, Quaresma são exemplos disso mesmo.
Com estes problemas nos três grandes, que são a principal fonte de alimentação da Selecção Nacional, a equipa ressente-se da falta de bons jogadores, formados e criados em Portugal e, possivelmente, potenciados no estrangeiro.
Parecendo que não, o impacto da geração de ouro de Queirós já lá vai e estamos em vias de perder o que esses brilhantes futebolistas conseguiram alcançar, em termos de mentalidade, profissionalismo, dedicação e qualidade.
Em Portugal está-se sempre à espera que algo aconteça mas raramente se faz alguma coisa para mudar.
A sombra do V Império e de D. Sebastião ainda e sempre pairam no ar...