Depois da eleminação do Porto frente ao Schalke restam os dois grandes de Lisboa como representantes portugueses nas competições da UEFA.
No que diz respeito ao jogo que decorreu no Estádio da Luz nada a dizer. Vitória justíssima da equipa espanhola, praticante de um bom futebol que aposta nas transições rápidas para o ataque, em movimentações de olhos fechados dos seus jogadores e na capacidade de passe e circulação da bola a toda a largura do terreno. No fundo à imagem do seu treinador, Laudrup, dominando os princípios básicos do futebol: passe, recepção e desmarcação.
Cardozo devia passar alguns jogos no banco de suplentes e reflectir profundamente naquilo que fez aos seus companheiros, deixando-os em inferioridade numérica logo aos 9 minutos de jogo. A partir daí o Getafe controlou as operações, trocando a bola serenamente entre os seus jogadores até chegar ao golo inevitável, por De la Red. Aumentou a contagem já na segunda parte, antes do Benfica reduzir num "meio-frango" de Ustari a remate de Mantorras.
Pelo meio ficou a ideia de que o Benfica, mesmo com 10, poderia empatar a eliminatória e, levados pelo público da Luz, os
encarnados mostraram uma capacidade de luta e resistência que nunca se lhes havia visto esta época, provando que o défice de qualidade de alguns jogadores pode ser disfarçado com a total entrega de todos.
A atitude da turma benfiquista foi notável, ficando a sensação de que o Benfica poderia estar noutra situação nas provas UEFA e no campeonato nacional se mantivesse essa mesma atitude ao longo da época. E o público da Luz, que sabe ler o espírito da equipa, entusiasmou-se e puxou pelos jogadores, mesmo a perder. Ou seja, desta feita feita foi a equipa que, pela atitude demonstrada, conseguiu fazer com que o desanimado público da Luz acordasse e demonstrasse que acreditava na reviravolta porque estava a ver a raça dos seus jogadores.
Passo a uma análise detalhada:
Quim - nada a fazer nos golos sofridos. No primeiro a bola desvia em Edcarlos e no segundo Nélson deu tempo e espaço para Hernandez meter a bola onde quisesse. Defesas de nível no resto do jogo dando segurança à equipa.
Nélson - desapoiado, é certo, durante muitas fases do jogo, mesmo assim teve muitas vezes espaço para subir pelo seu flanco mas encolheu-se, tal como aconteceu no lance do segundo golo do Getafe.
Luisão - mais uma lesão mal curada? O Benfica perdeu a sua voz de comando na defesa e isso afectou um pouco o moral da equipa. Demorou muito a reagir no lance do primeiro golo do Getafe.
Edcarlos - exibição sofrida. Fez o "desvio fatal" que enganou Quim e pareceu sempre atarantado com as movimentações dos adversários. Parece que lhe falta genica e fibra, disputa os lances sempre na última e em esforço quando parece que tem muito tempo para os resolver.
Léo - dos melhores na noite de ontem. Nestes jogos onde é preciso dar tudo o "baixinho" é exemplar, sempre dos primeiros a mostrar a raça com que disputa cada lance, mexendo com a equipa e os adeptos. Bem na forma como defendeu e subiu no seu flanco.
Katsouranis - dá-se mal com adversários muito mexidos e ontem não foi excepção. Sem outro companheiro no meio-campo defensivo pareceu perdido, nunca sabendo a que fogo acorrer. Não teve hipóteses para subir no terreno mas também não esteve no sítio quando foi preciso fechar junto dos centrais
encarnados.
Rui Costa - digam o que disserem, Rui Costa é
o capitão do Benfica. Experiência na condução dos ritmos da equipa, congelando a bola ou tentando a transição rápida para os extremos. Capacidade de liderança numa equipa onde a bola queima nos pés. Era dos poucos a fazer pressão sobre os adversários no meio-campo. Autêntica voz de comando, parece estranho tentar ensinar uma equipa a jogar em campo, quando os jogadores deveriam saber o que fazer e como se movimentar.
Di Maria - passou a jogar melhor quando Cardozo foi expulso, mais solto em campo. Algumas arrancadas em diagonais, algumas faltas ganhas em zonas perigosas para o Getafe, soube agarrar a bola quando foi preciso esperar pela subida dos companheiros.
Sepsi - bom jogo do romeno, na medida do possível dadas as circunstâncias. Nunca se atemorizou por ter a bola nos pés, boas movimentações no flanco esquerdo, aparecendo em zonas de finalização ou apoiando Léo a defender. Dos poucos que também conseguiu pressionar os homens do Getafe obrigando-os a errar.
Rodriguez - jogo de sacrifício após a saída de Cardozo, dando o corpo aos centrais espanhóis. Garra e capacidade de luta, nunca virou a cara a nenhum lance, pediu a bola e foi dos mais perigosos a atacar a baliza de Ustari, ora descaindo sobre as faixas ora entrando pelo centro em combinações com Rui Costa ou Di Maria.
Cardozo - não tinha feito nada até aos 9 minutos e o que fez nessa altura foi prejudicar a equipa.
Zoro - entrou muito bem o costa-marfinense. Perseguiu os avançados contrários, obrigando-os a fugir do centro do terreno, fez cortes cruciais, alguns até em zonas adiantadas. Uma boa exibição do defesa que lhe valeu muitos aplausos vindos das bancadas e a sensação de que sabe fazer mais do que mostrou até então.
Mantorras - ao seu melhor estilo: entrou e marcou, com sorte é certo, mas ele está lá. Trouxe alguma vivacidade ao ataque do Benfica mas sobretudo alguma preocupação aos centrais do Getafe, que até aí não tiveram de se haver com um avançado fixo.