A má campanha de qualificação da equipa nacional portuguesa para o Mundial tem sido um dos temas de conversa mais em voga no país, fruto da paixão nacional pelo jogo, engalanada nos últimos anos pelas constantes participações nos maiores palcos como o são o Europeu e o Mundial. Agora, e pela primeira vez em mais de 10 anos, Portugal corre o risco de ficar de fora de um desses eventos. O porquê desta situação é o que será explicado de seguida:
1) AdaptaçõesPepe joga como médio defensivo, Duda como defesa-esquerdo e Simão como avançado-centro. Demasiadas adaptações para uma equipa que deve procurar conciliar a posição com que os jogadores jogam nos clubes com a posição na selecção. Não é numa semana de trabalho que se ensina Duda a defender, por exemplo.
2) Melhor do mundo e mais quem?Cristiano Ronaldo é um jogador de classe mundial, tal como Deco, Bosingwa e Ricardo Carvalho. Pepe não pode entrar para as contas porque joga fora da sua posição. Simão é óptimo mas não é de topo. O mesmo acontece com Bruno Alves, Hugo Almeida, Raul Meireles e Tiago. Duda, Eduardo, Eliseu ou Edinho dificilmente teriam lugar numa selecção de topo como Itália, Brasil ou França. Feitas as contas, temos cerca de 4 jogadores de top, 5 ou 6 acima da média mas tudo o resto é altamente discutível.
3) Todo o peso da equipa em RonaldoÉ certo que a publicidade de ser o melhor do mundo ajuda a que todas as câmaras se foquem em Ronaldo e, como se não bastasse, torná-lo capitão ainda lhe põe mais responsabilidade nos ombros. Pelo que se tem visto até agora, Ronaldo não tem conseguido libertar-se de todo esse peso. Neste momento, ainda não marcou nenhum golo nos 5 jogos que disputou na fase de qualificação.
4) Falta de RaçaQueiroz pode ser um treinador muito organizado, rápido a entender as dinâmicas tácticas do jogo e até corajoso na aplicação das suas ideias. Mas a verdade é que quando o ouvimos falar em conferência de imprensa, transmite-nos uma falta de confiança enorme, garantindo que tem toda a responsabilidade nos maus resultados mas sempre sem se irritar, levantar a voz ou tomar uma atitude mais agressiva. A verdade que essa atitude é transmitida aos jogadores, pois Portugal teve até agora nos 7 jogos de qualificação apenas 7 cartões amarelos mostrados, denotando uma clara falta de garra nos jogos que disputa.
5) Grupo forte que a imprensa considerou fácilAo não ter uma selecção de topo como Itália ou França, Portugal pensou que este seria um apuramento certo, mas a verdade é que Suécia e Dinamarca são equipas muito fortes nas fases de qualificação, enquanto a Hungria vive uma fase próspera do seu futebol. Mesmo a Albânia já viveu dias piores. Em resumo, das 6 selecções que participam no grupo, 4 delas estão no top-50 do Ranking da FIFA, a Albânia é número 93 e Malta é realmente fraca. Aquando o início da fase de qualificação o Ranking não era muito diferente, portanto nunca fez sentido esta ideia de que o grupo seria fácil.
6) Erros dos árbitrosPelas contas de Queiroz, não foram marcados a favor de Portugal durante a fase de qualificação a quantia de 7 penaltis. Sejam 7, 5 ou 9, a verdade é que nem os árbitros têm "ajudado". Em ambos os jogos com a Suécia ficou por marcar pelo menos uma grande penalidade, situação que em muito poderia alterar toda a classificação do grupo.
7) Os típicos tropeçõesPortugal costuma sempre ter um ou dois tropeções em casa nas fases de qualificação. Desta vez foi o empate a zero com a Albânia em Braga. Num daqueles jogos em que não se pode perder pontos, Portugal conseguiu perdê-los. Pior que depois não os tenha conseguido recuperar diante dos rivais directos, como o provam o empate caseiro contra a Suécia e a derrota contra a Dinamarca em Alvalade.
8) A herança de ScolariPortugal vem de uma longa paixão com Scolari, treinador que dirigiu a selecção durante 5 anos com grandes resultados. Scolari era altamente contestado pela sua teimosia, mas criava um grupo compacto que hoje, face às constantes novas chamadas de jogadores por Queiroz, é impossível que exista. Não existindo o núcleo duro que Scolari promoveu, tudo se torna mais difícil. Além disso, Scolari tinha uma forma de falar em que, se as coisas estavam mal, toda a gente saberia que realmente assim o estavam. Não havia segredos. Hoje em dia ninguém faz ideia de como funciona o balneário da selecção nacional.
9) Fragilidade da Liga SagresO fraco nível competitivo da liga portuguesa também ajuda ao fracasso da selecção nacional. Apostando muito em estrangeiros, não se dá valor aos jogadores nacionais e a selecção ressente-se disso, não existindo nenhum grupo de jogadores do mesmo clube capaz de criar solidez à equipa. Além disso, ao não aparecerem novos jogadores portugueses, a capacidade da selecção em melhorar as suas unidades fica estagnada.
10) Queda no ranking da FIFAÉ uma mera formalidade, mas para quem se encontrava no top-10 e agora está quase a cair para os lugares acima do nº 20, a situação é tudo menos orgulhosa. Quem acredita que os jogadores não ligam a isto, engana-se muito. Não é um factor fulcral, mas ajuda a abater ainda mais a alma lusitana, ferida de morte nesta péssima fase de qualificação.
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