Wednesday, December 13, 2006

Equipas-sensação: Itália, a Fiorentina de Prandelli

Volto a Itália para fazer referência a uma das equipas que melhor futebol pratica na Serie A: a Fiorentina.
Desde já uma palavra ao técnico Cesare Prandelli, vencedor da Panchina d'Oro (Banco de Ouro), prémio referente ao melhor treinador de cada época em Itália. De facto, o futebol praticado pelos viola nada tem a ver com o catenaccio italiano; quer dizer, os princípios de jogo são os mesmos: defesa sólida e coesa, rápidas saídas para o ataque após ganhar a posse de bola. Mas Prandelli só põe a equipa a jogar assim após estar em vantagem no marcador. Para alcançar essa vantagem a Fiorentina pratica um futebol ofensivo e asfixiante, com constantes mudanças de flanco e trocas de posição, num belo futebol apoiado em carrocel a fazer lembrar a laranja mecânica de Cruyff. Exagero? Vejam um jogo dos viola para tirar todas e quaisquer dúvidas. Agora a equipa.
Na baliza Prandelli pratica uma rotatividade entre Frey, ágil e espectacular, e Lobont, discreto e eficiente; qualquer que seja a escolha (a minha seria sempre em Frey) está assegurada a defesa das redes.
A defesa é composta por 4 elementos: Ujfalusi à direita, central de raiz, cumpre sempre bem a defender dado o seu poderio atlético mas peca no ataque por ser central "adaptado"; no centro estão Dainelli e Gamberini, ambos muito altos, fortes quer no jogo aéreo quer na marcação, têm algumas dificuldades quando confontando avançados rápidos e móveis; na esquerda está uma das revelações do calcio da época transacta: Manuel Pasqual (vindo do Arezzo da Serie B), um jogador que faz todo o corredor canhoto a defender e a atacar, com grande precisão no passe comprido e no cruzamento para a área, é um dos municiadores de Toni nestes lances e nas bolas paradas. Por aqui percebemos que a Fiorentina, quando tem a posse da bola, ataca sobretudo pelo lado esquerdo na transição defesa-ataque, normalmente feita por Paqual. Ujfalusi encosta nos centrais, fazendo uma linha a 3. Prandelli decidiu colocar Jorgensen como extremo-direito, um jogador rápido e objectivo, sempre em direcção à baliza ou à linha de fundo, compensando a pouca propensão ofensiva de Ujfalusi.
No meio-campo estão Jorgensen à direita; Donadel encostado aos centrais, um regista recuado ao estilo de Pirlo, tratando a bola com grande técnica, boa precisão de passe curto e longo, mas trabalhando sempre em prole da equipa, apesar de ser pouco móvel, na semelhança de, por exemplo, Custódio; um pouco à frente de Donadel está Liverani, um experiente médio de transição, que leva a bola para o ataque, não através de dribbles mas de passes bem medidos, estando sempre ao pé dos colegas de equipa para lhes dar uma linha de passe, com um pulmão assinalável; nos últimos jogos Prandelli tem optado por Pazienza (a outra opção é Blasi), um carregador de piano com pulmão inesgotável, o típico médio lutador italiano ao estilo de Gattuso ou Brocchi, mas que sabe tratar a bola e endossá-la a quem tem por missão organizar o jogo ofensivo; na esquerda, jogando solto em diagonais para o centro (um pouco à semelhança de Nedved na Juventus) está Mutu, que aparece renascido das cinzas depois do consumo de cocaína que o fez parar de jogar, desenvolvendo um futebol alegre e agressivo, sempre em progressão à procura do passe de morte para Toni ou do seu colocado remate.
Na frente de ataque, o bombardeiro Luca Toni chega e sobra para as encomendas: melhor marcador da Serie A e Bota de Ouro da época passada, com 31 golos em 38 jogos. Um avançado alto e possante, com grande sentido posicional e instinto goleador, que apesar da altura (1,96m) tem na recepção da bola e no remate as suas armas mais mortíferas. Sem dúvida que, se tem despontado um pouco mais cedo para o estrelato (tem agora 29 anos), estaria numa equipa de topo do futebol mundial.
Como percebemos, em termos atacantes a equipa toma uma dinâmica muito própria: na ala esquerda solta Pasqual para posições mais de extremo do que lateral, e também Mutu, que passa a funcionar como 2º ponta-de-lança, deambulando nas costas de Toni. Donadel e Liverani funcionam como bóias de auxílio quando a equipa não consegue progressão, dando uma linha de passe e prontos para porem a bola no flanco oposto, onde Jorgensen dispara em tabelinhas com os médios ou com Mutu. A equipa nunca perde o seu equilíbrio, porque os centrais ficam auxiliados pelo falso lateral-direito Ujfalusi e por Pazienza, sempre mais activo na luta pela bola do que em funções ofensivas, onde recua para dar lugar à subida de Donadel.
Esta Fiorentina está em 16º lugar na Serie A com 11 pontos e com registo de 8V 2E 5D, 22GM 15GS, os viola estariam hoje no 4º lugar, mas os 15 pontos negativos com que começaram a época no rescaldo do calciocaos, assim não o permitem.
Procurem ver um jogo desta Fiorentina de Cesare Prandelli para, além de assistirem a um belo jogo de futebol, compreenderem melhor o que escrevo aqui.

2 comments:

António said...

De facto essa Fiorentina encanta e existem tantas mais considerações a fazer pois muito de pode falar da equipa de Florença, seja no aspecto futebolístico, económico ou associativo.

Quanto ao facto do renascimento de Mutu, ele está na cidade perfeita para isso (piada histórica), pois uma equipa de ataque dá-lhe sempre uma outra liberdade, tal como o facto desse castigo ter-lhe acalmado aquela má irreverência que o dominava. Talvez Mido aprenda com Mutu.

Sobre Pazienza, não se foi ou não chamado pra squadra azurra, mas sei que é um dos melhores médios defensivos italianos e a concorrência é muita.

Excelente post.

PG aka Scorpion said...

Pois é..não posso dizer que sou um grande conhcedor, mas sempre fui um entusiasta de equipas atacantes que contrariassem ou melhor potenciassem o que o futebol italiano tem de bom..
Através tb de poucas imagens que vi testemunhei a eficácia de Toni, que para um jogador daquele porte é tremendamente eficaz com a bola nos pés..bem como ainda me lembro da velocidade de aceleração e dribles de jorgensen em alguns replays que vi de alguns jogos..
Grande Fiorentina!! estamos ctg ehehe :)