Já há algum tempo que venho a alimentar uma ideia sobre este texto que vos escrevo mas o meu estimado colega e colaborador António Marreiros antecipou-se (e bem) ao tema, fazendo uma análise sintética e objectiva deste Benfica de Camacho.
O meu pensamento principal vai, porém, noutro sentido.
O melhor jogador deste Benfica é, ao mesmo tempo, a sua principal fonte de problemas: Rui Costa. Contraproducente ou mesmo obscena, peço que reflictam um pouco nesta ideia que vos apresento.
Ter um jogador da classe do Maestro no banco é um crime de lesa pátria. Mas o facto de entrar em campo no onze titular cria, logo à partida, dois problemas: Camacho opta por colocar apenas um ponta-de-lança (Cardoso) que passará o resto do jogo extremamente desapoiado; Camacho opta por alinhar com dois avançados (Cardoso e Nuno Gomes) e desiquilibra o meio-campo, ficando apenas com um médio de cobertura/recuperador de bolas.
Não se pode pedir a um jovem de 35 anos que trabalhe na recuperação da bola, faça dobras nas linhas, lance o ataque e esteja sempre perto da zona de jogo (bola) durante 90 minutos. Voltando às duas opções de Camacho, a primeira faz com que o desgaste de Rui Costa seja constante (vem atrás buscar jogo e organizar o ataque, lançando passes em profundidade ou variando o flanco de jogo mas tem de estar sempre perto da zona de finalização pelo simples facto de só ter um avançado à sua frente; o problema da segunda é que também faz com que o desgaste de Rui Costa seja enorme (tem de recuar mais em missões defensivas, fazer dobras na alas e fazer pressing para a recuperação da bola).
O problema está, talvez, no antiquado duplo pivot defensivo onde dois jogadores (Petit e Katsouranis) são bons a ocupar os espaços defensivamente mas deixam muito a desejar no transporte da bola e nas transições defesa-ataque-defesa pois são algo lentos nesses processos. Isto faz com que Rui Costa tenha de vir continuadamente atrás, junto dos seus médios defensivos ou mesmo dos centrais para lançar um ataque organizado. Há uma nítida aglomeração de jogadores na zona frontal defensiva nas saídas para a acção ofensiva, ficando o ponta-de-lança solitário com 4 defesas à perna porque também os extremos (Rodriguez e Maxi/Di Maria) partem de trás para, embalados com a bola, criar desiquilíbrios.
Eu penso que uma possível saída para este bicudo problema dos encarnados passa por inverter o triângulo do meio-campo, ficando apenas um médio de cobertura à frente dos centrais e adiantando um segundo para junto de Rui Costa. Aqui surge, de novo, outro problema: o Benfica não tem, no seu plantel, um médio destas características (o nº8), como João Moutinho, Maniche, Tiago ou Manuel Fernandes. Nesse caso eu apostaria numa solução ainda mais radical: o médio mais recuado passaria a ser Rui Costa, de modo a tirar partido da sua visão de jogo ímpar e capacidade de passe a curta/média/longa distância. O maestro já jogou nessa posição no AC Milan, onde o exemplo de Pirlo é claro: um antigo nº10 que passou a jogar mais recuado também devido à sua visão de jogo e capacidade de passe. Os outros médios do Milan dão-lhe cobertura (Gattuso, Ambrosini) criando espaço, à zona, para que Pirlo não seja pressionado nos lançamentos para o ataque. Eu desenharia um esquema táctico semelhante para libertar o Maestro do desgaste físico nas tarefas de recuperação e dobras e ao mesmo tempo nas transições defesa-ataque-defesa.
Por muito que pareça absurda e estando visto que o modelo do actual Benfica não resulta penso que seria uma solução viável e, apesar de tudo, de fácil e rápida aplicação. Claro que o treino, a nível das dinâmicas tácticas, é imprescindível quando se quer criar um modelo de jogo mas pela sua classe e qualidade acho que Rui Costa teria todas as condições para desempenhar na perfeição este papel.
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