Friday, January 04, 2008

Benitez e o Liverpool

Como ponto de partida, tenho que dizer que não sou fã de Rafael Benitez. É óbvio que não posso desconsiderar um treinador cujo palmarés inclui todas as taças europeias vigentes, assim como 2 campeonatos espanhóis, uma taça de Inglaterra e a promoção a um escalão superior de duas equipas (Extremadura e Tenerife).
Contudo, há diversos factores que me levam a olhar de forma suspeita para o espanhol. Uma dessas razões prende-se com a sua maneira de estar no futebol. Para mim, toda a sua atitude de gentileza e cavalheirismo inglês é um imenso contraste com a efervescência dos espanhóis, habituados a viver de forma apaixonada e louca o futebol. Benitez é exactamente a antítese dessa forma de viver o desporto-rei. É certo que a sua função requer concentração máxima e organização total, mas há momentos em que a sua indiferença pela conquista me choca. Para mim há duas explicações possíveis para essa indiferença:
  • Benitez tem total confiança no seu método, o que lhe confere uma confiança que roça a arrogância pelo simples facto não festejar sequer o trabalho bem realizado, como se já estivesse à espera que aquilo acontecesse;
  • Benitez não gosta da emoção no futebol, apenas do resultado. Tal paixão pelo resultadismo é a razão principal do sono que a maior parte dos jogos de hoje me causa.
Seja qual for a explicação, fica claro que Benitez é um treinador trabalhador e exigente, procurando sempre o resultado acima da exibição. Até hoje teve resultados, mas e quando os deixar de ter?

É sobre esse tema que se vai falando em Liverpool. Num ano em que se gastaram milhões em jogadores exclusivamente pedidos por Benitez, é normal que os adeptos (que desesperam pelo campeonato) e sobretudo os investidores peçam resultados num futuro imediato. Até agora o investimento está aquém das expectativas, pois o Liverpool encontra-se a 12 pontos do líder Arsenal (embora com um jogo a mais que o Liverpool) e foi apenas na última jornada que se qualificou para os Oitavos da Champions num grupo bastante acessível. As estatísticas e os adversários também não ajudam Benitez: o Liverpool tem menos 6 pontos em relação à época passada e o Arsenal apresentou frente ao West Ham (vitória por 2-0) uma equipa recheada de reforços que custaram aproximadamente aquilo que Torres custou ao Liverpool (30M €).

Benitez passou inclusive a barreira dos 180 milhões de euros gastos em reforços, entre os quais se situam flops como Kuyt (14M €, 11 golos em 40 jogos), Bellamy (10M €, 7 golos em 27 jogos), Gabriel Paletta (3M €, 3 jogos), Josemi (3M €, 22 jogos), Leto (4M €), Antonio Nuñez, Zenden, Kromkamp ou Insúa. Leiva (12M €) e Babel (16M €) poderão ser os próximos reforços milionários a não conseguir vingar na equipa de Benitez, em grande parte devido à estratégia declaradamente defensiva que coloca apenas um ponta de lança, normalmente Torres.

Deixo por isso no ar as seguintes questões que o futuro responderá por mim:
- Será que a era vitoriosa de Benitez acabou?
- Será que os adeptos do Liverpool continuam a preferir a emoção ao resultado?

Importa por fim referir que Mourinho caiu por muito menos.

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