Monday, May 19, 2008

Desastres e decepções

Todos os anos os mesmos sintomas: equipas com elevados orçamentos em relação à concorrência acabam a época em agonia, longe daquilo a que a priori estavam destinadas. O futebol mudou muito nos últimos anos e o poder do dinheiro também. Há uns anos atrás sabia-se onde estavam os jogadores capazes de conquistar títulos e como havia poucos investidores (em comparação com os dias de hoje, claro), rapidamente o bom jogador era comprado e o título arrecadado. Houvesse ou não uma equipa decente à volta dele. Hoje, com a multiplicação dos trunfos, com o forte cariz detalhado do jogo e com o espírito comercial dos empresários, já se confunde uma boa fase de um jogador com todo um Novo Maradona.

Tudo isto leva a um fenómeno que já existe há muito tempo, mas que actualmente ganha uma proporção avassaladora: o fenómeno dos grandes clubes afogados na luta por não descer de divisão. Em Portugal, o Vitória de Guimarães foi o primeiro clube a sentir na pele o poder desse fenómeno, quando, assolado por empresários enganosos, uma equipa de retalhos e uma estrutura caduca, se afundou na Liga de Honra. Porém, teve a sorte de haver pessoas sem outro interesse pelo clube que não o dinheiro e, com as pessoas certas, conseguiu livrar-se dos sintomas acima referidos, conseguindo inclusive construir uma equipa forte e conquistadora.

É essa a missão que espera ao Zaragoza, recém-despromovido à II Liga espanhola. Com um plantel de fazer inveja onde pontificam internacionais como Oliveira, Aimar, Diego Milito ou Ayala, a equipa teve 4 treinadores e não conseguiu a estabilidade necessária para competir numa Liga tão exigente como a espanhola. Foi assim que, sem surpresa, acabou por descer. O que é realmente assustador é olharmos ao orçamento do Zaragoza: 42 milhões de euros. Por outras palavras, maior que o do campeão português FC Porto (cifrado em 40M). Se repararmos que o Huelva, com o orçamento mais baixo da Liga (10M) conseguiu ficar acima do Zaragoza, temos a prova evidente que o dinheiro vale hoje bem menos no futebol do que há uns anos atrás. Pena é que este seja somente um equilíbrio aplicado a equipas de média dimensão. Acima destes clubes e num restrito de lote de mais ou menos 30 clubes, deve estar seguramente mais de 50% de todo o dinheiro que se gere no futebol mundial, ou seja, clubes como Manchester United, Internazionale ou Barcelona, nunca passarão por aquilo que o Zaragoza agora passa, pois eles reúnem entre si a capacidade de negociar os trunfos que existem no mercado, ao contrário dos clubes médios, que sobrevivem nesta lógica tentando criar as suas próprias cartadas dentro de um jugo sufocador dos grandes clubes que, mesmo sem estrutura dirigente à altura, mesmo que a equipa seja uma manta de retalhos, mesmo que hajam empresários com investimentos no plantel, nunca lutarão para não descer de divisão.

Caso o façam, deixam de pertencer à élite, como exemplifica o Valência, pois após uma década de glória, uma má temporada promete reduzir a frangalhos uma equipa que muito lutou para chegar onde chegou: Villa deverá sair para o Real Madrid, Silva é cobiçado por outros clubes e os restantes (Albelda, Morientes, Helguera, Marchena, Baraja, Joaquín ou Vicente) ou estão já na pré-reforma ou simplesmente perderam a aura de bons trunfos que anteriormente eram, algo que no futebol actual, é equivalente a dizer que dificilmente voltarão ao que eram.

Nota: Rui, falei sobretudo de Espanha neste post. Gostava que deixasses num novo post a tua opinião sobre as grandes decepções do futebol italiano, que tanto aprecias. Tou curioso para ler isso.

2 comments:

nomadas de las fiesta said...

yo soy aficionado del real zaragoza,subiremos aunque con estos jugadores parecia imposible que bajaramos,nuestra deuda es 130millones de euros,estamos arruinados,te invito a visitar mi blog.

Rui Gonçalves said...

Viva!
Depois deste post não há nada mais a acrescentar em relação ao campeonato espanhol. DE facto, nunca pensei que o Zaragoza, com o leque de excelentes jogadores que tem, descesse de divisão. O Valência foi, como já aqui foi referido várias vezes, outra das grandes decepções da liga do país vizinho.
Mas sobretudo penso que, no meio disto tudo, a decepção maior foi o Barça. A contratação de Milito, Henry e a ascenção de Bojan e dos Santos prometia uma grande época mas parece que o eclipse de Ronaldinho (e de Eto'o?)ofuscou tudo isso e só Messi conseguiu estar, realmente à altura do seu talento.
Palmas para o Villarreal e o Atlético de Madrid pelas suas prestações.

Abraço!