Monday, March 23, 2009

Derbies - as reacções

Após o apito final de Lucílio Baptista jorraram, como rebuçados para os jornalistas (e nós, bloguistas), as declarações bombásticas de jogadores, técnicos e dirigentes.

Do lado do Benfica o regozijo normal de quem venceu um troféu ao seu maior rival, a coerência de Quique Flores em relação a outros casos (como o do Dragão) e a contenção, indiferença ou finta de jogadores como Luisão ou Reyes sobre o caso do jogo, focando-se na vitória do Benfica e no que o Benfica fez dentro de campo, nos 90 minutos e nos penalties, para justificar essa mesma vitória.

Do lado do Sporting foi o caos. Declarações acusatórias, tom de voz elevado e algum cheiro a mercado de praça no ar. Também não era para menos. Apoio totalmente o tom sarcástico de Soares Franco, o discurso duro de Paulo Bento, as críticas dos jogadores do Sporting. Aliás, apoio incondicionalmente, porque há, de facto, um sistema de tal maneira instalado que funciona ao contrário: os que erram saem inpunes, e os que são prejudicados são penalizados e castigados. E só a revolta, por vezes, serve para abanar esse sistema, os seus órgãos e os seus dirigentes, sejam eles políticos ou "futebolísticos", se me permitem a expressão.
O que não posso apoiar são as atitudes que tiveram alguns jogadores, nomeadamente Pedro Silva. Não só agrediu o árbitro como desrespeitou os vários órgãos do futebol português e os seus intervenientes, desde árbitros, dirigentes da Liga, colegas profissionais ao rejeitar a medalha de vencido e mais, arremessá-la para o vazio. O futebol português não recebe lições de ninguém, muito menos de quem é pago para o servir e lá porque vem de um sítio onde as crianças nascem com a bola no pé, não vem para aqui ensinar nada nem ninguém. Não se sentiu atingido com a atitude de Pedro Silva caro leitor? Então peço desculpa, o erro foi... de Pedro Silva.
E neste ponto de vista, a blogosfera leonina também não está isenta de culpas, elevando à condição de herói(!) o jogador e a sua atitude. Um jogador que denigre a camisola do clube com os seus actos e o futebol de uma nação e as suas instituições? Bem...

A atitude de Lucílio Baptista de ir à televisão comentar o lance foi digna. Não há muitos que tenham a coragem e a humildade para o fazer. Muitos árbitros provavelmente nem saberão o que isso é. Foi explicar o inexplicável, dirão alguns. Mas foi. Deu a cara, assumiu o erro e pediu desculpa. Pode não chegar para adeptos, dirigentes, jogadores e técnicos do Sporting, mas era o que tinha de ser feito. Talvez o tenha feito por ser o seu último ano como árbitro, por querer "limpar" um pouco a sua imagem ou consciência, mas também nunca saberemos se o faria se continuasse a apitar.

Regressando a Pedro Silva, fiquei incrédulo quando abri o jornal e li que Lucílio Baptista não mencionou no relatório do jogo a peitada de que foi alvo pelo lateral do Sporting. Como assim?! Não viu? Não sentiu? Porque não o mencionou? Se se provasse a agressão (e as imagens provam-no) o jogador estaria susceptível a uma pena que poderia ir dos seis meses a quatro anos. O sumaríssimo também está fora de questão pois serve apenas para punir lances que não foram visionados pelo árbitro (Bruno Alves pisou na cabeça o jogador Reguila, avançado do Trofense, mas como nem o árbitro nem os senhores da CD da Liga viram um lance visualizado por milhões de telespectadores, passou impune).
Ora, se bem me lembro, jogadores como Nuno Gomes e Katsouranis foram punidos com 1 jogo de suspensão por "falatório". Um jogador que agride um árbitro, que é expulso na sequência do lance e que tem declarações incendiárias após o jogo, que castigo vai ter? Pelas minhas contas deveriam ser 3 jogos de suspensão, isto fora a parte de agredir o árbitro.

O Benfica, através do seu director de comunicação, teceu também algumas declarações. João Gabriel referiu a falta de fair play dos leões e lembrou a forma como foi o Rio Ave derrotado (o fora-de-jogo quilométrico de Vukcevic). Mas a parte mais forte da declaração do porta-voz do Benfica foi dada em directo na SIC Notícias para nunca mais ser ouvida: nem na SIC, nem na RTP1 ou RTPN, nem na TVI ou TVI24, nem sequer na própria SIC Notícias momentos depois. Bem procurei ouvir essa parte da declaração mas foi terminantemente erradicada (leia-se censurada) da face da Terra: disse João Gabriel, e com razão porque os factos, as fotografias e as imagens de TV não mentem, que para um clube como o Sporting fazer todo este alarido pela justiça e verdade desportiva, não fica nada bem alinhar-se com um clube que mais se assemelha a uma organização criminosa e a um presidente suspenso por corrupção, arguido e suspeito de sabe-se lá mais que trapaçadas e muito menos fica bem sentar-se ao lado desse senhor fumando calmamente um charuto e trocando uma série de sorrisos cúmplices e gargalhadas sonoras.

Acabo de ouvir Jorge Baptista, comentador da SIC Notícias, dizer com toda a razão, nua e crua: "como é possível mudar a face do futebol português quando há pessoas nas suas instituições (FPF e Liga e seus órgãos) que já estão em lugares há 20, 30 anos? Não podem ser as mesmas pessoas a fazer essa mudança, não é possível porque se nunca o fizeram em 30 anos não é agora que o vão fazer. O mesmo se passa com os árbitros e a APAF. Como é possível mudar a arbitragem se os seus dirigentes são os mesmos e se os árbitros não são profissionais naquilo que fazem?". Subscrevo inteiramente.
Isto já para não falar no secretário de estado do Desporto, Dias Loureiro, que aparece sempre muito inchado e sorridente a falar da candidatura ao Mundial e a dar palmadinhas nas costas a José Mourinho na FMH, mas que quando surge alarido no futebol foge dos problemas como o Diabo da cruz. Foi assim com a polémica arbitragem de Xistra em Guimarães, com a de Paixão no Sporting-Porto, com esta de Lucílio, enfim, sempre que houve problemas, o senhor saiu pé ante pé e deixou assentar a poeira, para depois surgir com um discurso ambíguo e benevolente como nada se tivesse passado. O mesmo se passa com o sr. Madaíl, outro que evita "berbicachos" a todo o custo, tal e qual como o seu amigo secretário de estado. Outro exemplo ainda, fora das quatro linhas: a reeleição de Vicente Moura para o COP, depois de ter metido os pés pelas mãos e de dar o dito por não dito, ainda foi parar exactamente ao mesmo sítio, sem que ninguém tenha feito nada para contrariar esta reeleição a cheirar a mofo e a bafio.
Este tipo de dirigentes em nada serve nem o desporto nem o futebol. Aburguesados, comtemplativos e benevolentes, esta geração há muito que está intalada e há muito que está ultrapassada. Os clubes, os seus dirigentes, corpo técnico e jogadores não se podem conformar, daí dar todo o meu apoio às declarações de Paulo Bento, Soares Franco e outros que queiram dar o abanão definitivo nesta hierarquia politicamente incorrecta.

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