Sunday, June 22, 2008

O sonho de Hiddink

Guus é um nome curto e estranho, que dá vontade de fazer trocadilhos como motivo de gozo. Guus é nome de treinador. Guus é nome de cidadão do mundo, capaz de exercer de forma positiva o seu trabalho em qualquer canto do mundo. Guus é o verdadeiro trabalhador do mundo, profissional ao ponto de ganhar ao país que o viu nascer. Van Gogh ou Rembrandt talvez vissem isso como a última forma de traição à pátria, mas as selecções que acolheram Guus vêem-no como "o maior". Depois da cidadania e do mérito recolhido na Coreia do Sul, depois do feito de ter qualificado a Austrália para os Oitavos-de-Final do Mundial 2006, caindo aos pés da Itália e do árbitro desse jogo, agora Guus é o novo "czar", colocando a Rússia nos padrões da história futebolística da URSS, depois da excelente e totalmente merecida vitória frente à ultra-favorita Holanda.

Como tinha dito anteriormente, faltava à Holanda ver-se em desvantagem num jogo para se perceber afinal se eram realmente favoritos ou não. A resposta foi um rotundo e sonoro não, pois não conseguiram fazer tremer as boas bases do futebol russo, apoiado na técnica dos jogadores do Zénit (Arshavin e Zyrianov), na segurança do CSKA (Akinfeev, Ignashevich e Zhirkov) e no instinto do goleador do Spartak (Pavlyuchenko). A Holanda, carente de técnica na transição (Engelaar e De Jong estiveram sofríveis nesse aspecto), deixou tudo nos pés de Sneidjer, que rodeado de defesas russos - estes sabiam onde estava o epicentro - assustava mais não facturava, deixando os russos cada vez mais à vontade para atacar, o que fizeram durante todo o jogo, depois dos primeiros 20 minutos de estudo do adversário. Mérito de Hiddink que nunca deixou de ter 2 avançados, mérito da concentração e claro, total demérito de Van Basten, que tal como havia demonstrado há 2 anos frente a Portugal, é um técnico conformado e muito mau nas substituições (esgotou-as por volta dos 70 min). Vê-se claramente que é um técnico que gosta de agradar à imprensa e isso é hoje um péssimo sinal, pois a imprensa quer que jogue quem venda e não quem está em melhor forma.

Fica então um favorito pelo caminho e abre-se o caminho para mais uma surpresa, logo após a Turquia. É esta a magia do Europeu, campeonato que permite a equipas como estas exibirem-se em alto nível e sonhar com a vitória, tal como Dinamarca, Checoslováquia ou Grécia o fizeram e conseguiram.

Holanda
Positivo: Espírito ofensivo da equipa. Nistelrooy e o seu faro salvador. Sneidjer a aguentar o peso da responsabilidade.
Negativo: Falta de estofo de campeão - Primeira vez em desvantagem e ficam logo pelo caminho. Ooijer e Mathijsen são inseguros. Heitinga e Boularouz foram comidos por Arshavin.

Rússia
Positivo: Muito fortes no jogo ao primeiro toque. A técnica maravilhosa de Arshavin. Excelente resistência (deve-se muito ao diferente calendário do futebol russo)
Negativo: Equipa jovem com tendência a infantilidades. Equipa péssima a defender bolas paradas.

2 comments:

Rui Gonçalves said...

Fabulosa a exibição de Arshavin! É caso para perguntar: porque Ronaldo não conseguiu fazer uma exibição destas, de acordo com o seu "estatuto" de "melhor do mundo"?

É pena...

Abraço!

António said...

Acho que a diferença de resistência física entre ambos os jogadores foi notória e acabou por ditar leis. Ao ponto de haver já fãs do Man Utd a dizer pra vender o português e ir buscar o russo. Um exagero...

Para mim, Arshavin é um jogador ao nível de Joaquín, Petrov ou Altintop: não são grandes jogadores em regularidade, mas uma vez motivados e acarinhados tornam-se nos maiores do mundo.

Abraço