Friday, June 20, 2008

Algumas considerações sobre o Euro de Portugal

Voltámos a claudicar perante a Alemanha. Mais fortes fisicamente e, sobretudo, mentalmente, oa germânicos foram letais nas bolas paradas e criaram muito perigo em contra-ataque, depois de marcarem 2 golos de rajada.

Passo a uma pequena análise sobre os jogadores nacionais.
Ricardo só fez uma defesa de relevo, a remate de Ballack, no 1º golo pouco podia fazer mas nos golos de bola parada ficou mal na fotografia ao ficar a meio da viagem, com culpas repartidas por quem estava a marcar Klose e Ballack.
Bosingwa travou duelo interessante com Podolski e esteve muito bem a atacar, sobretudo no 2º tempo com a Alemanha mais defensiva, mas esteve mal nos cruzamentos e foi ultrapassado no lance do 1º golo.
Pepe esteve muitíssimo bem a ganhar os duelos nas alturas e na antecipação mas também reparte culpas nos golos.
Ricardo Carvalho esteve muito abaixo daquilo que pode e deve fazer. Ficou a ver Schweinsteiger arrancar para o 1º golo, raramente jogou em antecipação como costuma fazer e teve problemas nas dobras.
Paulo Ferreira teve tarefa complicada com Schweinsteiger e não o conseguiu travar no 1º golo embora numa zona da competência dos centrais e era um jogador claramente em défice na 2ª parte, já não defendia nem atacava.
Petit teve missão complicada na marcação a Ballack e raramente ganhou um lance. Sem velocidade para acompanhar os contra-ataques alemães e o seu maestro.
João Moutinho estava a jogar muito bem, no apoio quer a Petit nas missões defensivas quer a Deco nas missões ofensivas e de transporte da bola, quando se lesionou num lance com Ballack.
Deco foi, sem dúvida, o melhor de Portugal. Foi super e esteve genial no um-para-um, no passe curto e longo e na maneira como carregou com a equipa para a frente desde o 1º ao último minuto.
Simão esteve muito bem na 1ª parte, criando vários lances com Deco e Bosingwa no flanco direito e poderia ter marcado. Caiu na 2ª parte mas continuou a tentar fazer um transporte de bola rápido.
Ronaldo foi, como os colaboradores do "Crónicas" haviam previsto, uma desilusão. Futebol aos fogachos e pouca noção de quando soltar a bola, esteve no lance do 1º golo de Portugal, é certo, mas esteve mal no remate e quando jogou a ponta-de-lança quase desapareceu.
Nuno Gomes trabalhou muito junto dos centrais contrários o que lhe valeu um golo com bom sentido de oportunidade.
Nani veio agitar os flancos e fez o cruzamento para o 2º golo. Ainda deu esperanças aos portugueses mas era já tarde demais.
Postiga marcou bem, de cabeça, na única oportunidade que dispôs e movimentou-se bastante.

Numa análise mais geral, Portugal precisava de ter Ronaldo com mais futebol e menos "brilhantina", de um Ricardo Carvalho ao seu nível, de João Moutinho ter continuado em campo e a lacuna de defesa-esquerdo continua a ser um problema por resolver.
A meu ver, Scolari também não esteve muito bem nas substituições, não nos jogadores que entraram mas nos que saíram. Tirou Nuno Gomes quando estava a perder por 1-3 e necessitava de um jogador com quem os médios e os extremos pudessem tabelar (muitas vezes Deco e Simão eram obrigados a jogar para trás por não haver quem se aproximasse para receber o passe), teve o azar de ficar sem Moutinho, que tem maior amplitude de jogo que Meireles e é mais decisivo no último passe, e quanto a mim poderia ter arriscado tudo ao tirar P. Ferreira, claramente em défice físico e, sem ninguém para marcar, nem atacava nem defendia. Bem ao tirar Petit.
Aliado a estes factores, aquele triste fado de ter o árbitro a empurrar a Alemanha. Amarelo a Pepe quando num lance igual pouco antes nem sequer marcou falta sobre Simão, o empurrão de Ballack sobre P. Ferreira e aquela sempre conveniente conivência quando os alemães já só estavam a queimar tempo, critério largo para a Mannschaft e apertado para a turma das quinas. E a verdade é que teve influência directa no resultado. Mas valha a verdade, não foi por aí que Portugal perdeu e saiu fora do Euro.
Notas positivas: Pepe esteve seguríssimo na defesa, Deco foi fabuloso durante o Euro, Moutinho assumiu-se como titular indiscutível da equipa, Bosingwa esteve muito bem, tal como Simão.
Notas negativas: C. Ronaldo e Ricardo Carvalho não estiveram ao seu nível, Quaresma voltou a revelar-se uma desilusão; falta de "classe" de jogadores como B. Alves, J. Ribeiro, R. Meireles, Petit para os grandes palcos; falta de GR, lateral-esquerdo e ponta-de-lança de nível indiscutível, como sempre as grandes lacunas da Selecção.
Como havia escrito num texto aqui no "Crónicas", o que separa Portugal daquele grupo de selecções composta pela Alemanha, França, Itália, Argentina e Brasil, é só e apenas uma questão de mentalidade, que se vê e demonstra na concentração, atitude e determinação a nível individual e que se estende de modo visível a toda a equipa, isto além da qualidade geral dos seus jogadores. Apenas Pepe, Deco e Simão estiveram ao nível exigido contra a Alemanha, e contra essas equipas de topo faz toda a diferença.

1 comment:

António said...

é um longo caminho a percorrer para nos juntarmos ao Brasil, Itália ou Alemanha, selecções que em má forma avançam sempre, enquanto nós jogamos o dobro e ficamos no caminho. Falta mentalidade, como bem dizes, mas eu acrescento: falta astúcia, falta picardia e faltam opções. Meireles é jogador de raça e nada mais. Um Oceano branco e com tatuagens, mas de físico franzino. A saída de Moutinho foi algo parecido ao casco de um barco a partir-se, enquanto Ronaldo procurava a sua jangada, desinteressado pela situação.

Para mim foi mau demais, pura e simplesmente porque, passado 2 anos do Mundial, e acima de tudo, 10 anos após a expulsão de Rui Costa por Batta, não aprendemos a lição!

Temos que ser matreiros e retirar proveito da fama de maldosos, mergulhadores, etc. É que ter a fama e o proveito ser dos outros (ver Alemanha, em concreto Ballack) é de quem não entende o futebol dos nossos dias.