Não se fazem omoletes sem ovos. O chavão é mais que batido mas continua a servir na perfeição como metáfora de algo óbvio mas que alguns continuam sem ver ou perceber.
Assim se enquadra o momento do Sporting. Os adeptos, depois de anos a verem campeonatos correr como água debaixo da ponte, assim que vislumbram algo positivo entram em euforia, desejosos de ver cumpridas as suas ambições de mais um título. Isto acontece com todos os adeptos dos chamados grandes, nos últimos anos talvez menos com os de Benfica e Porto, mas apesar de tudo em semelhante medida. Os adeptos leoninos, sequiosos de vitórias ou de, simplesmente, ver bom futebol, entusiasmaram-se e com eles a equipa, que passou por um bom período de jogos com vitórias consecutivas, alguns momentos de bom futebol, golos, em suma, o vislumbre de uma equipa.
Mas os testes mais difíceis estavam para chegar e com eles claudicou o Sporting. Perdeu com o Benfica num jogo em que esteve praticamente uma parte em superioridade numérica, onde não foi capaz de criar uma situação de golo nem sequer para empatar o resultado. Depois em casa com o Porto também não foi capaz de ganhar, num empate que castigou duas equipas sem ambição, num jogo insípido e totalmente desprovido de interesse futebolísticamente falando, mas onde a vitória interessava mais ao Sporting para não se atrasar ainda mais face à concorrência e mostrar, perante os seus adeptos, que podiam conter com ele para a luta dos lugares da frente. Finalmente com o Braga, numa deslocação estes dias sempre difícil, o Sporting também não foi capaz de um futebol competitivo e, com dois erros defensivos tremendos, perdeu claramente. Os empates cedidos no início o novo ano podem ser explicados apenas pelo moral em baixa de uma equipa presa e a jogar já sobre brasas.
Vemos então que a equipa não estava ainda preparada para a competitividade face aos outros três maiores adversários, equipas com espinha dorsal e modelos de jogo definidos há vários anos. Mas nem Godinho Lopes, nem Luís Duque nem Domingos têm a receita da poção mágica nem dotes de magia para mascarar algumas das deficiências da equipa.
Desde logo a contratação de 19 novos jogadores, que proporciona muito trabalho para os entrosar, formar um grupo, adaptarem-se à realidade do clube e do futebol, do clima, do facto de terem cá a família, casa, carro e outros aspectos extra-futebol que os adeptos normalmente tendem a esquecer.
Tomemos como exemplo o primeiro ano de Jesus à frente do Benfica. Toda a gente achou um grande feito, ser campeão logo no primeiro ano, mas a verdade é que Jesus pouco ou nada fez em relação aos seus jogadores. O Benfica já tinha a matéria-prima: jogadores com vários anos de casa (Luisão, Quim, Maxi Pereira, Aimar, Cardozo), percebia-se o potencial de jogadores como David Luiz, Di Maria e Fábio Coentrão, que também já militavam na Luz há dois ou três anos. O que faltava ao Benfica era um modelo de jogo claro e alguém que pusesse as peças nos lugares certos para a máquina começar a funcionar. Aqui o trabalho de JJ foi perspicaz e importante. Com as boas exibições de pré-época de Di Maria e com Coetrão a mostrar serviço sabia que não podia jogar com os dois simultaneamente, então puxou Coetrão para lateral, sabendo do desejo do caxineiro em mostrar serviço. "Trancou" o meio-campo com as chegadas de duas pedras fundamentais para o modelo de jogo: um nº6 posicional, forte no momento defensivo, na ocupação dos espaços e sem vocação ofensiva (Javi Garcia) e com tão poucas unidades para defender, sabendo da propenção ofensiva dos laterais, teria que ter alguém do meio-campo que fizesse as recuperações nas transições defensivas e equilibrasse a equipa (Ramires). Mais à frente juntou Saviola a Cardozo, que tinha marcado 17 golos quase só na 2ª volta do campeonato, para lhe dar mais liberdade, com Aimar e Di Maria a municiar os dois. Assim, ao mesmo tempo que equilibrava a equipa, libertava algumas pedras fundamentais, os golos e as exibições apareceram em consequência e o Benfica voou para o título.
É nisto que o Sporting ainda tem de ter...paciência. Grande parte da matéria-prima não estava no clube, não há ainda um modelo de jogo bem difinido nem uma alternativa ao mesmo ou um plano B por assim dizer. Há experiências com os jogadores a rodarem por várias posiçõesem vez de criarem rotinas e não há referências em cada sector pois, seja por lesão ou mau desempenho, não tem havido jogadores indiscutíveis salvo talvez Schaars e João Pereira. O recente incidente de Bojinov mostrou que a equipa está intranquila e que, mais do que isso, não sabe o que está a fazer nem tem ainda confiança no seu método, procurando a todo o custo salvar-se a ela própria.
Faltam então as bases para criar um modelo de jogo sólido onde os jogadores o interpretem de olhos fechados, com rotinas entre posições e um onze-base mais fixo, onde as soluções e alternativas se adequem e encaixem, sem alterar a estrutura de raiz.
1 comment:
Na procura de vitórias, esquece-se que o melhor é criar as bases necessárias para as mesmas, que partem pelo simples principio de por o jogador com os atributos certos para a posição certa. Na construção de uma equipa, é óbvio que os resultados interessam, mas mais que isso, o desempenho individual leva a um melhor colectivo que por sua vez é a fórmula mágica que o Sporting procura sem dar antes os passos correctos.
Como exemplo, o que Domingos fez com André Martins, é errado. Nunca se pode tirar um jogador em crescendo numa equipa em "amolecimento". A inclusão de Seba Ribas no onze tem que ser progressiva e não "à bruta". Coisas dessas já nem no Football Manager resultam. Resumindo, falta alguma paciência ao Paciência.
Abraço
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