Sunday, May 16, 2010

Benfica - e depois do título?


O Benfica sagrou-se campeão nacional de futebol com inteiro mérito e justiça. Teve o melhor ataque e a melhor defesa da prova, um jogador seu venceu a Bola de Prata, foi o clube com mais vitórias e menos derrotas e o que praticou melhor futebol.
Se é verdade que a equipa encarnada se destacou pela regularidade e versatilidade dos seus jogadores, também não é menos verdade que alguns se destacaram dos demais.

David Luiz, para mim o jogador deste campeonato, foi a personificação do espírito da equipa em campo e quem mais levou para o relvado as ideias de Jorge Jesus: pressão, antecipação ao adversário, disputa dos lances até ao fim, sempre com o ataque nos olhos, alegria a jogar e, como diz o cântico, a "raça, querer e ambição". Di María foi o "fura-defesas" de serviço, com as suas arrancadas em velocidade e assistências mortíferas. Cardozo destacou-se pelos golos que o consagraram melhor goleador da liga, 19 anos depois de Rui Águas. Javi García e Ramires foram, embora de maneiras distintas, os pontos de equilíbrio da equipa. Aimar e Saviola trouxeram a classe que havia faltado em épocas passadas às equipas do Benfica. Fábio Coentrão revelou-se finalmente como jogador de um clube grande, numa notável adaptação a lateral-esquerdo. Foram estes os grandes esteios da equipa encarnada esta temporada, logo seguidos por um lote de quatro jogadores que, pela sua regularidade ou utilidade, deram o seu importante contributo: Luisão, como o sereno patrão da defesa mas capaz de dar o grito de revolta e de alerta à equipa (apenas ofuscado pela grande época de David Luiz); Rúben Amorim, pela sua regularidade exibicional e versatilidade; Carlos Martins, pela garra, capacidade de passe e remate que deu à equipa, nunca se coibindo de assumir as rédeas do jogo e empurrando a equipa para a frente; e Wéldon, por ter sido uma opção mais que válida para o ataque (sobretudo tendo em conta o valor da sua aquisição), chegando mesmo a ser decisivo na ponta final do campeonato.

Por outro lado, toda a gente o afirmou e tem de ser dito mais uma vez: o trabalho de Jorge Jesus foi o grande pilar deste Benfica campeão. Incutiu uma mentalidade atacante, que uma equipa como o Benfica num campeonato como o português só pode ter. Foi capaz de encontrar nuances tácticas que equilibraram a equipa a defender e lhe deram asas para atacar. Deu liberdade a David Luiz para subir no terreno com a bola controlada e criar assim desiquilibrios e linhas de passe que antes não existiam, deixando Luisão como elemento mais recuado e ficando sempre lá atrás, sendo que Javi García se movimentava para colmatar as subidas de David Luiz. "Transformou" com sucesso Fábio Coentrão em lateral-esquerdo, num jogador onde a qualidade já lá estava mas pedia a orientação de um treinador experiente, formando ala esquerda terrível com Angelito Di María, outro jogador que finalmente "explodiu" por virtude de JJ, dando-lhe mais sentido colectivo sem nunca perder a liberdade da acção individual, onde as características do jogador são excepcionais. Pôs (finalmente) a equipa a jogador para Cardozo e o goleador paraguaio correspondeu ao ser o melhor marcador da prova. Teve em Ramires elemento fundamental nas transições defesa-ataque-defesa da equipa, sendo o brasileiro capaz de ocupar as subidas de Maxi Pereira ou Amorim a defender ou sair para o ataque em velocidade. Pôs também a funcionar a dupla Aimar-Saviola, dando as rédeas da equipa ao nº 10 para gerir os ritmos de jogo e jogou com as características do "Conejo" para efectuar movimentações e triagulações a deixar jogadores na cara do golo.

Falta saber agora quem fica e quem sai, para JJ melhor planear a temporada 2010/11, o que provavelmente só acontecerá depois do Mundial da África do Sul. Di Maria e Cardozo são os prováveis candidatos à saída, não excluíndo nomes como David Luiz e Ramires ou mesmo Luisão, Saviola ou Aimar, jogadores que já tiveram propostas em carteira.
Prováveis saídas serão as de Jorge Ribeiro, Luís Filipe, Moreira, Mantorras e Shaffer, aos quais poderá estar associado o nome de Éder Luís e Weldon ou Nuno Gomes, sendo que o clube deverá equacionar os empréstimos de Fellipe Menezes, Miguel Vítor, Urreta e mesmo Roderick Miranda. A renovação de Quim é, para já, ainda uma incógnita.
Não esquecer que o clube tem assegurados os passes do avançado Jara, de Nicolas Gaitán e de Fábio Faria para a próxima época.

Dando uma última opinião a nível de reforços, estes estão dependentes, como é óbvio, da saída deste ou daquele jogador, ainda assim o Benfica deveria reforçar-se na baliza, isto apesar da renovação ou não de Quim, e procurar finalmente um guarda-redes de qualidade indiscutível para ser titular pela selecção do seu país e dar tranquilidade à equipa, sobretudo nas bolas paradas e nos cruzamentos para a área, situações onde se sabe que os "keepers" do clube e os portugueses em geral têm dificuldades. Júlio César é talvez a única garantia de permanência. Na lateral direita falta uma alternativa a Maxi (Patric foi emprestado e não se sabe ao certo o seu real valor) pois Rúben Amorim cumpre a posição sem qualquer problema mas ainda assim continua a ser uma adaptação. Na esquerda, de César Peixoto fica a ideia de ainda não ser uma opção sólida, apesar de ter qualidade mais que suficiente para tal, sendo que foi uma lacuna colmatada com a boa adaptação de Coentrão ao lugar. Luisão, David Luiz e Sidnei estarão garantidos para a próxima época, faltando saber qual dos jovens fica, se Miguel Vítor se Roderick. No meio-campo, Rúben Amorim, Ramires, Carlos Martins, Javi Garcia, Airton e Aimar deverão todos ficar, sendo que o Benfica se deveria reforçar para o "miolo", alguém que possa ser opção a Ramires, um médio todo-o-terreno, que possa libertar Carlos Martins para as funções de "10". Nas alas, eminente que está a saída de Di Maria (acautelada com a aquisição de Gaitán) falta alguém que possa fazer de extremo puro, sobretudo pela ala direita, quando as exigências do jogo assim o determinarem, situação que tem sido debelada pela classe de Ramires sobre a ala destra do meio-campo. Para o ataque, as coisas estão mais incertas, dependendo da saída de Cardozo e de nomes como Nuno Gomes, Mantorras, Éder Luis e Weldon. É provável que a sair Tacuara, a aposta seja feita no jovem Kardec para acompanhar Saviola, dado o tipo de jogador, não sendo de descartar a aquisição (para além de Jara) de um avançado capaz de ser goleador de serviço.

Veremos como JJ e LFV arquitectam a próxima época dos encarnados, quer em termos de colmatar eventuais saídas com jogadores de real categoria, quer em termos da continuação do modelo de jogo e da regularidade exibicional dos jogadores que se vão manter no plantel.

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