Sunday, April 29, 2007

Choque de identidades

Old Trafford, 24 de Abril, 19h45. Milan e Manchester United entram em campo e na postura dos seus jogadores nota-se os traços genéticos que definem dois estilos de futebol antagónicos.
Apoiados por um público entusiasta o Manchester apresenta uma base de jogadores que reflecte a identidade dos seus adeptos, maioritariamente trabalhadores do sector industrial da cidade. Giggs, Wes Brown, O’Shea, Carrick, Fletcher, Rooney, Alan Smith e Scholes todos eles jogam a grande intensidade, de dentes cerrados, não param um segundo, como se a sua camisa fosse um fato-macaco que não se importassem de sujar.
Milan, vindo de uma cidade cosmopolita, centro da moda mundial, entra de camisa branca, impecavelmente engomada. Jogadores finos, que podiam ter saído de uma qualquer passerelle, como Maldini, Nesta, Pirlo, Inzaghi, Gilardino, Jankulovski e Kaka (o mais italiano dos brasileiros que eu já vi jogar).
O jogo começa e os ingleses arregaçam as mangas e dominam as operações. O gigante italiano agradece e encosta-se no seu “sofá” defensivo. É como se sente melhor.
Canto do lado direito, cabeçada de Ronaldo. As câmeras apanham o olhar de Maldini, e o experiente capitão não apresenta qualquer sinal de intranquilidade. Sabe a equipa que comanda e tem a noção da estratégia traçada. Contra-ataque de chancela italiana. Puro e simples. O golo de Ronaldo não faz abanar esta estratégia.

O jogo prossegue e a tónica mantém-se, até que Kaka irrompe pela defensiva inglesa, ultrapassa Heinze e toca com classe para o fundo das redes.
Um quarto de hora depois, de novo Kaka, num trabalho individual ganha a melhor a Heinze e Evra, e á saída de Van der Sar faz o 2-1.
Intervalo e o gigante italiano na frente, sem deslumbrar mas com grande eficiência.
A segunda parte começa e a cavalgada inglesa ao “castelo” italiano continua. No entanto o golo aparece não por um lance de velocidade de Giggs ou Ronaldo, mas por um lance de génio de Scholes, que com uma “colher” perfeita alimenta o instinto goleador de Rooney que faz o empate.
O jogo mantém a toada até que perto do final, Giggs esgota o seu último “sprint”, coloca comprido em Rooney que estabelece o resultado final.
O jogo acaba. As camisas dos italianos permanecem brancas, os cabelos estão impecáveis e com um ar apresentável para sair á noite para um “pub” qualquer de Picadilly Circus. Os “gladiadores” ingleses estão mais cansados (Ferguson não fez substituições), e aparentam o aspecto de um qualquer metalúrgico após um estafante dia de trabalho.
Não sei qual vai ser o resultado da segunda mão. Nem quem vai estar presente na final.

Mas sei que a identidade e as raízes das equipas se vão manter. Num lado a entrega e o “fighting spirit” britânico. No outro a experiência e a calma italianas. Fato-macaco Vs fato-de-gala. Os dados estão lançados, vistam-se a rigor e apoiem o estilo que mais gostam.


Autor: MAH

PS: daqui em diante irei postar os textos do meu caro colega Miguel Horta, assinados MAH, pelo que colocarei sempre a autoria do texto em questão, apesar do meu nome ser sempre mencionado no post. Um grande bem haja pela sua contribuição caro colega!

Thursday, April 26, 2007

UEFA Champions League: Chelsea - Liverpool

Confesso que estava desejoso de ver este embate. Não por saber que iria assistir a um bom jogo, nem sequer estava à espera disso, mas por tentar antecipar os esquemas que Mourinho e Benítez iriam lançar em campo.
A surpresa maior foi o Chelsea em 4-3-3. Digam o que quiserem os "entendidos da bola" (se é que José Rita se qualifica...) mas para mim foi assim que o Chelsea jogou: Makelele e Obi Mikel como doble-pivot com Lampard mais à frente; Joe Cole e Shevchenko nas alas com Drogba sempre no meio.
Por seu turno, Benítez não me surpreendeu nada: aposta (falhada) na velocidade de Bellamy em detrimento de Crouch (em melhor forma e mais incómodo para os centrais do Chelsea dada a sua fisionomia); aposta (falhada) na experiência de Zenden ao invés de colocar Fábio Aurélio( isto fez com que Riise ficasse colado à defesa sem poder explorar o seu forte pontapé). Mas o que mais faz doer qualquer amante da bola é ver Gerrard constantemente relegado para médio-direito. Nem conseguiu travar as investidas de Ashley Cole (se era esse o intuito) nem conseguiu fazer com que o pulmão dos reds pegasse de vez na equipa para a levar para a frente. A sua capacidade física, de remate e visão de jogo completamente tolhidas por um manager "sem coração"!
Começou forte o Chelsea, com um Lampard muito mais solto e avançado do que o habitual esta época (lembram-se dele no 4-3-3 de Mourinho dos 2 últimos anos?) e com as recuperações de bola rápidas de Makelele e Obi Mikel, o Chelsea ia criando perigo até que o inevitável tinha de acontecer: mais uma antecipação de Ricardo Carvalho, saída da defesa com a bola nos pés e a cabeça levantada, passe para a correria louca de Drogba, finta sobre o adversário e o instinto de Joe Cole (ai Nuno Gomes!...) a fazer o golo.
Na 1ª parte só deu Chelsea, com Reina a fazer ainda um punhado de boas intervenções.
Na 2ª metade o Liverpool surgiu mais solto, com a entrada de Crouch e a passagem de Gerrard para o miolo com a entrada de Pennant. Controlo das operações, mais frescura física e melhoria do passe no último terço do terreno fizeram o ascendente do Liverpool sobre os blues. Mas excepção feita a um remate de Gerrard e um ou dois lances de maior perigo para Cech, ficou-se por aqui o Liverpool.
Mourinho soube tomar o pulso à equipa para, com os mesmos jogadores, mudar o esquema de jogo e tornar a equipa mais imune à capacidade física do adversário.
Benítez voltou-me a desiludir. Irrita-me a sua teimosia. Percebo que com Xabi Alonso, Sissoko, Mascherano e Gerrard seja difícil escolher a dupla do meio-campo. Mas... porque não fez como Mourinho? Colocava Gerrard e mais dois homens no miolo, abrindo Pennant ou mesmo Bellamy na direita e Riise ou Mark González na esquerda e assim Crouch seria o avançado mais indicado para jogar de início. Matava dois coelhos de uma cajadada: usava uma táctica mais conservadora e defensiva povoando o meio-campo, ao mesmo tempo que permitiria voltar ao seu 4-4-2 normal assim que desejasse, adiantando Bellamy na direita e voltando a "4" no centro do terreno. Mas enfim...

Chelsea

Cech- seguríssimo, como se observou no remate de Gerrard onde não viu a bola partir

Paulo Ferreira- defendeu-se bem de Zenden e manteve Riise ao longe, aproveitando para atacar com mais frequência do que é habitual; boa exibição!
Ricardo Carvalho- já vem sendo hábito ser ele a lançar o contra-ataque ou mesmo a marcar; insuperável e omnipresente
Terry- muito bem nas bolas pelo ar e no chão teve em Carvalho o seu companheiro ideal
A. Cole- não arriscou muito no ataque, antes aproveitou e bem para tolher os movimentos a Gerrard, preso ao seu flanco

Makelele- tem andado um pouco longe da forma de outros tempos mas surgiu ao seu melhor nível. Incansável a roubar bolas.
Obi Mikel- idem idem aspas aspas
Lampard- mais solto do que o habitual este ano, por força da lesão de Ballack, mas notou-se que se sente melhor em terrenos mais adiantados, mas não é nem um nº8 nem um nº10...

J. Cole- criatividade e vivacidade, instinto no lance do golo
Shevchenko- andou meio perdido nas alas, mas foi tentando derivar para o meio à procura de triangulações com Drogba e Lampard sem nunca se descuidar a fechar o flanco
Drogba- imperial nas alturas, ganhou tudo e mais alguma coisa nos lances aéreos com Agger e Carragher; sprintou para o passe de Ricardo Carvalho e ofereceu o golo a Cole

Liverpool

Reina- boas intervenções a não permitir que o Chelsea ampliasse a vantagem

Arbeloa- andou hesitante entre fechar o seu flanco ou ajudar os centrais na marcação a Drogba; não fez uma coisa nem outra...
Carragher- perdeu os duelos com Drogba
Agger- idem
Riise- não se soltou no ataque como habitual e foi pelo seu lado que surgiu o golo do Chelsea

Gerrard- só assumiu protagonismo quando derivou para o miolo, na 2ª parte, surgindo com outro fôlego e rematando à baliza de Cech com perigo
Mascherano- lento, emperrou o jogo dos reds com passes laterais quando devia levar a bola e a equipa para a frente
Xabi Alonso- mais rápido no passe que Mascherano, estava a subir muito de rendimento quando Benítez o tirou de campo... estranho.
Zenden- inconsequente perante Paulo Ferreira

Bellamy- inconsequente de todo...
Kuyt- voluntarioso, nunca deu uma bola por perdida mas quando jogou melhor estava na pior fase da equipa e desapareceu quando o Liverpool cresceu na 2ª parte

PS: Aceitam-se comentários sobre estes jogos, questionem as minhas percepções... força nisso, eu quero é debate bola, cara!

UEFA Champions League: Man Utd - AC Milan

Após o perspicaz texto do António resta-me fazer uma abordagem pós-1ª mão das meias-finais da Champions.
O Man Utd-AC Milan foi, na acepção da palavra, diabólico. Com um começo muito forte e a liberdade dada a Cristiano Ronaldo, o Man Utd empurrou o Milan para a sua grande área. Jogando só com Rooney na frente, Alex Ferguson apostou na deambulação de Ronaldo e Giggs e nas rápidas trocas de bola entre os três homens de meio-campo, Scholes, Carrick e Fletcher. Chegou naturalmente ao golo, num lance confuso mas cheio de mérito do crack português. O Milan pareceu encaixar o golo e deixar-se ir no jogo dos anfitriões. Reparem que utilizei pareceu. Porque, reorganizando-se, os rossoneri começaram a apertar as marcações, nomeadamente Gattuso e Ambrosini, tendo mais posse de bola, muito bem utilizada por Pirlo, Seedorf e Káká para levar o esférico até à área contrária. O Milan cresceu e sentiu-se confiante, sempre à procura do momento certo para atacar com perigo a baliza de Van der Sar. E eis que esse momento chegou com uma arrancada explosiva de Káká, o homem que vai carregando o Milan às costas. A experiente equipa italiana sabia que podia agora controlar o jogo.
Ferido, o Man Utd tentou responder de imediato, mas uma eficaz circulação de bola, uma defesa compacta e, sobretudo, um pressing alto que obrigava os ingleses a trocar a bola entre os seus defesas, fazia dos transalpinos um obstáculo intransponível. O Milan não recuou, como fazem as equipas portuguesas quando, por acaso, se encontram em vantagem contra algum colosso europeu. Obrigou, isso sim, o Man Utd a errar e a permitir que Káká, num lance de génio, misto de força, técnica e antecipação, consumasse a reviravolta.
Na 2ª parte o Manchester veio disposto a ir para cima do adversário e conseguiu criar algum frissom junto da área dos visitantes que, porém, nunca se desconcentraram e até podiam ter ampliado a vantagem por Káká em duas ocasiões.
O Man Utd trocava agora bem a bola e noutro lance genial, Scholes descobriu Rooney para o empate. O lumberjack estava a fazer um mau jogo até então mas concretizou esta e a oportunidade concedida no fim por Giggs, já em tempo de descontos.

Man Utd

Van der Sar- nada a fazer nos golos do Milan

O'Shea- não se aventurou muito porque Seedorf e Káká caíram no seu sector
Brown- conseguiu parar Gilardino
Heize- infeliz, esteve nos dois golos do Milan em que foi ultrapassado em velocidade por Káká
Evra- o Milan não apostou no seu flanco para atacar e mesmo assim não subiu para apoiar

Fletcher- na 1ª parte não esteve bem mas subiu muito na 2ª metade onde foi influente
Carrick- geométrico, não foi no chuveirinho e tentou colocar a bola nas faixas ou em Scholes
Scholes- magnífica a assintência para Rooney e brilhante na recuperação dos red devils
Giggs- assistência para o golo da vitória e muita experiência nos momentos difíceis
Ronaldo- começo ao seu estilo mas afundou-se com a equipa quando o Milan cresceu

Rooney- não conseguiu completar um passe ou uma tabelinha mas fez 2 golos importantes

AC Milan

Dida- mal batido nos 3 golos do Man Utd sobretudo no 3º onde estava muito mal posicionado

Oddo- contenção perante Giggs e Ronaldo mas aproveitou bem o facto de Evra não subir
Nesta- apenas batido pelo passe de Scholes e por um contra-ataque que já não se esperava
Maldini- fotocópia do colega de sector e muita experiência nos momentos de maior aperto
Jankulovski- com as deambulações de Giggs e Ronaldo ficava com espaço para subir

Pirlo- capacidade de passe para lançar o ataque rápido e congelar a bola, conforme necessário
Ambrosini- capacidade de choque e de pressing importantes na reviravolta do Milan
Gattuso- não foi tão influente como costuma mas a garra e o espírito lutador nunca lhe faltaram
Seedorf- inteligente a perceber que O'Shea estava desapoiado fez a ligação da equipa com Káká
Káká- genial nos golos e em mais duas situações que podiam ter acabado com o Man Utd

Gilardino- correu sem bola e pouco se viu mas abriu autoestradas que Káká aproveitou


PS: Já lá vai um tempo sem um post mas finalmente retomei-lhe o gosto. Talvez tenha sido deste grande jogo de futebol. Saúde!

Sunday, April 22, 2007

Rumo às Meias-finais da Champions 2006/07

Em relação ao que escrevi sobre os Quartos-de-final da Liga dos Campeões, acertei algumas coisas e falhei outras. Por exemplo, acertei quando disse que o PSV ficaria pelo caminho, que a fortuna do Milan fazia milagres e que a dependência valencianista de Villa poderia sair cara. Quanto ao que falhei, o "dar zebra" já não vai acontecer, pois das 4 equipas restantes só o Chelsea não ganhou a prova. Os restantes (Milan, Liverpool e Man Utd) contabilizam entre eles a modesta quantia de 13 Ligas/Taças dos Campeões Europeus, isto é, mais do triplo das que foram ganhas por clubes portugueses (4). Passemos então à análise dos 4 gigantes da Europa:

Milan: Revitalizado internamente por Ronaldo, já não precisa de ganhar a Liga dos Campeões para participar no próximo ano. Como tal, isso pode tirar alguma força anímica à equipa na hora das decisões. Ainda assim, este é um clube que as entidades divinas gostam de ajudar nas horas difíceis, por isso o melhor para o Manchester United (seu rival na luta pela final) é não deixar para o dia seguinte aquilo que pode fazer no jogo da primeira mão. Quanto à equipa, Gattuso encontra-se em grande forma e até faz de maestro no meio-campo na ausência de Kaká (que ainda assim se encontra em boa forma, apesar de ter vindo a marcar menos golos) e Seedorf parece querer ganhar a 4ª Champions e aproximar-se do recorde de Gento.

Manchester United: Em nítida quebra de forma. Os 7-1 marcados à Roma no jogos dos quartos simbolizam aquilo que muita gente não quis acreditar: não foi o auge de uma grande fase mas sim o fim. A partir desse jogo os red devils têm vindo a arrastar-se em campo, dependentes de Ronaldo (visivelmente cansado), Rooney (não é jogador para resolver jogos sozinho) e Giggs (ainda mais cansado que o 7 português). Além disto há a referir a praga de lesões na defesa (Vidic e Ferdinand no estaleiro, entre outros). A seu favor, têm Old Trafford e o facto dos profetas da desgraça se enganarem muito (entre eles estou eu).

Liverpool: Ao contrário do Milan, quero crer que os de Anfield querem evitar a todo o custo uma reedição da final de há 2 anos e consequente encarar de uma vingança milanesa. Por isso, deverão jogar em 2 campos, o seu e o da outra meia-final, retirando isso concentração no seu duelo particular com o Chelsea. Particular pois Benitez adora picar Mourinho, o seu grande rival na Inglaterra e nos 'mind-games' apesar de na maior parte das vezes, não ter equipa para o picar. Ainda assim, na Champions o Liverpool é uma outra equipa, muito forte e com uma garra que faz tremer qualquer um. Em parte, acho que o Liverpool é uma equipa talhada para a competição continental, um pouco à imagem do Chelsea e em contraste com o Man Utd ou Arsenal. Por isso, todo o cuidado é pouco com os reds.

Chelsea: O candidato. Não que se encontre em melhor forma que os restantes, mas ao contrário destes, o Chelsea e Mourinho sempre disseram, ainda a equipa estagiava na pré-época, que a Champions era um objectivo claro. Como tal, é natural que ao ainda encontrar-se em prova, seja considerado o grande candidato. Em campo, a equipa está mais ajustada ao 4-4-2, embora Shevchenko tenha caído de forma (internamente), em oposição a Mikel que tem vindo a ajudar muito a manobra de Mourinho. Ballack, por seu turno, tem-se mostrado em boa forma na Champions, ao contrário de Makelelé que parece achar toda aquela falta de movimento demasiado cansativa.

Como nota final, estou convencido que Mourinho teve o pior adversário agora e não na final, caso lá chegue. O Liverpool é demasiado manhoso frente ao Chelsea e isso é de facto, a sua maior arma. Em termo de choque táctico, vai ser um festival para os olhos. Já em termos de espectáculo, provavelmente será bem menos entusiasmante que um Leiria-Naval.
Por último, aqui fica o meu palpite para a final: Milan - Chelsea.