Portugal no Europeu 2012:
Uma história de má sorte?
Ponto prévio: Para mim há sorte e azar no desporto. Por muito treino que exista, quem já chutou uma bola repetidas vezes ao mesmo alvo, sabe que o pé até pode embater exactamente no mesmo sitio que no remate anterior que a bola pode sair numa direcção totalmente oposta ao que queríamos. À vezes ao tentarmos melhorar um remate e quando pensamos que já acertámos na maneira correcta de o fazer, lá ficamos estarrecidos ao ver que a bola sai cada vez mais lado a cada nova tentativa. Claro que o vento, o tipo de bola, a força aplicada e o local exacto de contacto entre a bola e o pé nunca é o mesmo e todos estes factores são motivos de diferença, mas ainda assim, acredito que há uma componente de sorte no desporto.
Sorte essa que normalmente, acompanha as equipas que mais a procuram, isto é, equipas que mais chutam, que mais dribles, desmarcações e automatismos tentam e que melhor posicionadas estão em campo. É habitual ouvirmos alguém queixar-se que os ressaltos vão sempre parar à mesma equipa, quando o posicionamento da mesma equipa é que dita a melhor ou pior probabilidade de reter a posse de bola. Ainda assim, e quando falamos em probabilidades, não podemos nunca descurar o factor aleatório, ou seja, a nua e crua sorte.
Neste sentido, acho que a prestação de Portugal no Europeu 2012 tem vários aspectos de sorte e de azar ao longo do torneio. Não concordo com Paulo Bento quando disse que faltou sorte à selecção, pois em alguns momentos fomos bafejados por ela. Entre esses momentos de fortuna, esteve o adversário dos Quartos-de-Final: a República Checa. Se analisarmos o leque das últimas oito equipas presentes no torneio, só a Grécia era um adversário acessível (ainda que o trauma de 2004 estivesse bem presente). Todas as outras são equipas com as quais Portugal tem histórico negativo (exceptuando os últimos anos face aos ingleses) e com as quais a decisão seria muito mais complicada do que a apresentada face à República Checa.
Claro que podem dizer-me que só nos calhou esse rival porque saímos vivos do grupo da morte, ditado pelo azar do sorteio, mas a isso respondo que por não sermos cabeças-de-série, a probabilidade de calharmos num grupo difícil era logo à partida muito real. Certamente que os suecos também não gostaram do sorteio, tal como os croatas, todos eles concentrados em grupos igualmente complicados. Faltou sorte na tentativa de ir parar ao Grupo A (o da Grécia), mas ao mesmo tempo não foi mau ficarmos longe da história negra que temos com italianos, franceses e espanhóis.
Voltando ao rival dos Quartos-de-Final, achei igualmente afortunado não termos coincidido com a Rússia, a previsível campeã do grupo A que, por excesso de confiança, acabou por não passar à fase seguinte. Ao fim da primeira jornada da competição, admito, era a Rússia a equipa que mais temia, tanto pelo futebol praticado como pela personalidade demonstrada. Não passaram os russos e ainda bem, pois os checos e o seu futebol sólido mas pouco efusivo, foram presa fácil para um Portugal que tinha acabado de sair do grupo da morte com vontade de devorar o que lhe aparecesse no caminho.
Nesse jogo, assim como já tinha acontecido nos jogos anteriores, a trave e os postes da baliza foram bons ajudantes dos guarda-redes adversários. Falou-se muito da falta de sorte dos portugueses e aí só posso concordar, pois não é muito normal enviar tantas bolas ao ferro em tão poucos jogos. Para cúmulo, foi também por aí que Portugal perdeu nas grandes penalidades contra a Espanha: Bruno Alves manda à trave e a bola ressalta para fora enquanto Fábregas manda ao poste e caprichosamente a bola entra na baliza. Faltou a sorte aqui que tivémos no remate de Van der Vaart ao poste ou nas perdidas de Van Persie e Huntelaar no jogo contra a Holanda, um dos mais bem conseguidos da selecção neste Europeu e ao mesmo tempo, um dos jogos onde o factor sorte não se virou contra nós.
Diz-se que a sorte protege os audazes, e aqui Paulo Bento pode ter razão se acrescentar que não houve neste Europeu selecção que merecesse mais sorte que Portugal face à coragem demonstrada (excepção aos primeiros 70 minutos do torneio). Em contrapartida, a Espanha está na final com um dos mais talentosos e brilhantes plantéis de que há memória e ainda assim, prefere refugiar-se num jogo de passe curto, só atacando pela certa, dominando apenas a posse de bola. Perde o futebol, ganha Platini.